Werner Roger, gestor da Trígono Capital
Sem atuação firme dos governos, empresas mostram que é possível agir com ações de ESG para reduzir emissão de CO2, ponto central de discussão na COP26
Setor privado está assumindo o protagonismo enquanto os governos não apesentam ações efetivas para redução de carbono no planeta. Os índices alarmantes de CO2 na atmosfera têm desencadeado uma série de efeitos nocivos ao planeta e diante desse futuro ameaçador, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu como meta a redução das emissões de gases do efeito estufa em 45% até 2030 para evitar a elevação da temperatura em 2%: um esforço global que será discutido na COP26 (26ª Conferência sobre Mudanças Climáticas). Para atingir esse objetivo, setor privado, governos e sociedade precisam atuar juntos. No entanto, com a inércia dos órgãos competentes muitas empresas listadas na Bolsa e gestoras de fundo de ações têm implementando ações de ESG (práticas que englobam o cunho ambiental, social e governança) para cooperarem com essa redução. Além dessas iniciativas contribuírem para o meio ambiente, estudos mostram que elas ainda geram vantagens competitivas, melhoram a reputação e o valuation das organizações, contrapondo-se à corrente que alega que investimentos ambientais são caros e não trazem compensação financeira.
Como prova disso, algumas empresas têm desenvolvido práticas de ESG, em seus segmentos de atuação, que promovem a redução de CO2 no planeta e são exemplo para outras organizações. Como é o caso das companhias Tupy, que está desenvolvendo uma tecnologia para reciclagem de baterias de carros elétricos; da São Martinho, primeira produtora de etanol no Brasil a obter certificação para emitir e vender créditos de descarbonização (CBios) e da Ferbasa, companhia de minério- ferroligas que possui forte plano de gerenciamento de resíduos sólidos e atingiu o maior retorno na B3 desde o plano Real, 84.780%, comparado a 3.262% do Ibovespa.
Outra ação relevante desenvolvida pela Trígono Capital, gestora especializada em small caps, é a realização do Relatório 2020 de Pegada de Carbono com as empresas do seu portfólio. A empresa é a primeira gestora especializada em small caps do país a implementar o relatório e a defender que a prática deveria ser um requerimento dos órgãos reguladores, ou, realizada de forma espontânea pelas empresas, configurando melhores práticas de governança das empresas listadas na Bolsa de Valores. O gestor e sócio cofundador da Trígono Capital, Werner Roger, considerado entre os 5% melhores gestores do mundo segundo classificação da empresa britânica Citywire, explica que a intenção do relatório é trazer uma reflexão para o mercado financeiro e para as empresas investidas sobre a importância da geração de valor com a transição para uma economia de baixo carbono e da atuação empresarial responsável e assim gerar um efeito em cadeia onde as empresas e clientes vão reconhecendo a necessidade dessa mensuração e exigindo iniciativas para compensá-las. “Em algum momento, todas as empresas serão pressionadas a seguirem um programa de redução de carbono, contribuindo para a busca do carbono neutro. As companhias deveriam assumir uma posição ativa frente à agenda ambiental, tomando as rédeas desse movimento ao invés de meramente reativa, antes que sejam atropeladas por exigências regulatórias, além da demanda de investidores e consumidores”, explica Werner.
Práticas sustentáveis das empresas que refletem em vantagens competitivas
A Ferbasa – Cia de Ferro Ligas da Bahia (FESA4), companhia de minério- ferroligas que alcançou o maior retorno na B3 desde o plano Real, 84.780%, comparado a 3.262% do Ibovespa, possui forte plano de gerenciamento dos resíduos sólidos. Este exemplo mostra a relação direta de práticas ESG e valorização. A companhia atua constantemente na busca por investimentos em tecnologia e energias renováveis, como a eólica, buscando a redução das emissões causados pelo diesel, consumo consciente de água, neutralização do carbono gerado no processo metalúrgica e busca de autossuficiência energética 100% através de energia limpa e renovável, além de cultivar florestas de eucaliptos para produção de bioredutores, substituindo o coque, e manutenção de áreas de preservação florestal muito maiores do que os requerimentos regulatórios de natureza ambiental.
Um outro exemplo é a Tupy, multinacional brasileira do ramo da metalurgia, que está alinhada com a causa ambiental, através da economia circular. Ela recicla anualmente quase 600 mil toneladas de sucata e converte em produtos de altíssima tecnologia metalúrgica. Recentemente, a companhia anunciou sua nova iniciativa com a Universidade de São Paulo (USP) para a reciclagem de baterias, um desafio importante para mitigação dos impactos ambientais causados pelos veículos elétricos e o ciclo de vida curta dos produtos. O objetivo é encontrar uma alternativa viável ao processo atual de reciclagem de baterias, que é feito por pirometalurgia, no qual a matéria-prima é incinerada e possui três desvantagens: grande consumo de energia, alto nível de emissões e perda nos materiais recuperados, principalmente do lítio. Além disso, a Tupy firmou duas parcerias, com a Westport Fuel Systems (República Tcheca) e a AVL List GmbH (Áustria) para o desenvolvimento de um motor de combustão interna ICE (na sigla em inglês – Internal Combustion Engine) movido à base de hidrogênio (H2). Este projeto busca a utilização de hidrogênio nos motores em substituição aos combustíveis fósseis, com ampla repercussão positiva ao meio ambiente, especialmente quando utilizado o “hidrogênio verde” produzido através de eletrólise com energia renovável.
Já a São Martinho (SMTO3), empresa referência mundial do setor sucroenergético, também desponta com excelentes práticas de ESG e rentabilidade. Destacando-se no cenário nacional com grandes projetos de sustentabilidade sendo a primeira produtora de etanol no Brasil a obter certificação para emitir e vender créditos de CBios, relacionados tanto a captura de CO2 da atmosfera pelos canaviais, como pela substituição de combustíveis fósseis pelo etanol. A empresa também substitui fertilizantes químicos a partir de resíduos industriais reciclados em fertilizantes orgânicos e está investindo no desenvolvimento de tecnologia para produção de biometano, gás de origem residual do processo industrial que poderá substituir o diesel como combustível em suas máquinas agrícolas e logística, além de poder gerar energia renovável e ser usado como gás canalizado em substituição ao gás natural e liquefeito de petróleo, ambos de origem fóssil e geradores de maiores quantidades de gases geradores de efeito estufa em relação ao biogás.
Para o desenvolvimento da economia é inevitável a liberação
de CO2 na atmosfera em alguns segmentos, entretanto, as práticas dessas
empresas evidenciam que é possível reduzir a pegada de carbono e compensar a
emissão, além de adotar medidas assertivas e responsáveis, que agregam valor às
organizações e reafirmam o compromisso com as futuras gerações.
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