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sábado, 18 de setembro de 2021

FGV Social lança a pesquisa "Desigualdade de Impactos Trabalhistas na Pandemia"

  


A pandemia do Covid-19 constitui um choque de grandes proporções não só pela sua intensidade como pela sua abrangência global. Agora, diferentes pessoas são impactadas de maneira diferenciada em diferentes estratos sociais, localidades e aspectos de suas vidas. Nosso objetivo com a pesquisa é fornecer uma visão ampla e atual da desigualdade de impactos trabalhistas da pandemia no Brasil.

Frustração trabalhista - A renda individual média do brasileiro incluindo informais, desempregados e inativos se encontra hoje -9,4% abaixo do nível do final de 2019. Na metade mais pobre esta perda de renda é de -21,5%, configurando aumento da desigualdade entre a base e a totalidade da distribuição. Neste ínterim pandêmico, a queda de renda entre os 10% mais ricos foi de -7,16%, menos de 1/3 da queda de renda observada na metade mais pobre. O grupo do meio entre os 50% menos e os 10%, uma espécie de classe média no sentido estatístico, teve queda de renda de 8,96%, cerca de 2,8 pontos de porcentagem de perda acima do extremo superior.

Causas - Pouco mais da metade da queda de renda de -21,5% dos mais pobres, -11,5% foram devidos ao aumento de desemprego. Além disso, ainda pelo canal da ocupação contingente expressivo de trabalhadores se retirou do mercado sem perspectiva de encontrar ou exercer trabalho durante a pandemia. O efeito-desalento explicou queda de renda 8,2 pontos de porcentagem na metade mais pobre contra perda de 4,7 pontos na média geral sendo a segunda causa mais importante para a deterioração do binômio média e desigualdade trabalhista. Outros canais de impacto da maior queda de renda na metade mais pobre foram a redução de renda dos ocupados por hora fruto da aceleração da inflação e do próprio desemprego e a redução da jornada de trabalho.

Quem perdeu mais? - Os principais perdedores foram os moradores da região Nordeste (-11,4% de perda de renda contra -8,86% do Sul, por exemplo); as mulheres que tiveram jornada dupla de cuidado das crianças em casa (-10,35% de perda contra -8,4% dos homens), os idosos com 60 anos ou mais também perderam especialmente por terem de se retirar do mercado de trabalho função da maior fragilidade em relação ao Covid-19 (-14,2% de perda).

Perda na base - A pesquisa apresenta um gráfico que ilustra a trajetória da renda média a preços constantes da metade mais pobre. A renda que já tinha caído 14,1% do ápice de R 255 no quarto trimestre de 2014 (2014.04) para R 219 no quarto trimestre de 2019 (2019.04). Deste ponto até o segundo trimestre de 2021 (2021.02) cai 21,5% chegando a R 172.

Desigualdade em alta - O índice de Gini que já havia aumentado de 0,6003 para 0,6279 entre os quartos trimestres de 2014 e 2019 (201404 a 201904) saltou na pandemia atingindo 0,640 no segundo trimestre de 2021 (202102) acima de toda série histórica pré-pandemia (a pesquisa possui gráfico com a série histórica da desigualdade de 2012 até 2021).

Pobreza - A proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza era na média de 2019, antes da pandemia, 10,97%, cerca de 23,1 milhões de pessoas na pobreza, A pobreza passa em setembro 2020 o melhor ponto da série função da adoção do Auxílio Emergencial pleno para 4,63%, 9,8 milhões de brasileiros. No primeiro trimestre de 2021 tirando todo Auxílio Emergencial suspenso, mas devolvendo Bolsa Família atinge 16,1% da população. 34,3 milhões de pobres. Os dados mostram um cenário desolador no início de 2021 quando em seis meses o número de pobres é multiplicado por 3,5 vezes, correspondendo a 25 milhões de novos pobres em relação aos seis meses anteriores. Finalmente, com a adoção do novo auxílio em escala reduzida com duração limitada a partir de abril de 2021 com alguma retomada 12,98%, 27,7 milhões de pobres pior do que antes da pandemia do Covid.

Estagflação - A recente aceleração das taxas de desemprego e de inflação teve consequências distributivas. Nos 12 meses terminados em julho de 2021, a inflação dos pobres foi 10,05%, 3 pontos de percentagem maior que a inflação da alta renda, segundo estimativas do Ipea. Nos nossos cálculos a taxa de desemprego da metade mais pobre subiu na pandemia de 26,55% para 35,98%. Já entre os 10% mais ricos a mesma foi de 2,6% para 2,87%. Isto significa que o chamado índice de desconforto proposto por Arthur Okun, composto pela soma simples das taxas de desemprego e de inflação, não só subiu, como subiu muito mais entre os mais pobres.


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