Texto final traz avanços, mas ainda não garante o cumprimento da meta de 1,5ºC
Ativistas do Greenpeace erguem faixa dizendo "NÃO ESTÁ À VENDA" contra o icônico globo gigante no centro da sala de conferências da COP26 em Glasgow
Glasgow, 13 de Novembro de 2021 - A COP 26 chega ao fim e, apesar de alguns avanços, ainda nos deixa distantes do que seria necessário para garantirmos a meta de 1,5 ºC. O texto final da Conferência do Clima da ONU cita a eliminação progressiva do uso do carvão e dos subsídios aos combustíveis fósseis, mas precisávamos de mais. O texto também traz avanços para as discussões sobre adaptação climática e os países desenvolvidos finalmente começam a responder aos apelos dos países em desenvolvimento por financiamento para lidar com o aumento das temperaturas. No entanto, muito ainda ficou pendente.
"O objetivo em Glasgow era encerrar a lacuna para 1,5 ºC e isso não aconteceu, mas em 2022 as nações terão que voltar com metas mais ambiciosas. A única razão pela qual conseguimos o que fizemos aqui foi porque jovens, líderes indígenas, ativistas e países na linha de frente do clima forçaram concessões que foram feitas de má vontade. Sem eles, essas negociações sobre o clima teriam fracassado completamente", afirmou Jennifer Morgan, Diretora Executiva do Greenpeace Internacional.
Houve reconhecimento de que os países em situação de vulnerabilidade estão sofrendo perdas e danos reais com a crise climática, mas o que foi prometido até agora ainda está longe das necessidades dos territórios. Essa questão deve estar no topo da agenda dos países desenvolvidos, principalmente na COP 27, que será realizada no Egito, ano que vem. A questão é que as palavras no texto precisam ser, de fato, implementadas pelos países e se tornarem ações.
Com as atuais contribuições apresentadas pelos países, ainda estamos longe do 1,5 ºC - um estudo do Carbon Action Tracker divulgado na COP, apontou para um aquecimento de 2,4 ºC até o final do século se todas as metas para 2030 forem atingidas. Precisamos aumentar a ambição ou estaremos colocando milhões de vidas em risco.
O Brasil deixa a Conferência com a assinatura de dois acordos e o compromisso de revisar sua NDC no ano que vem - assim como todos os países. "Apesar de muito esforço do governo federal para parecer comprometido com o clima e com a preservação da floresta, os dados de desmatamento na Amazônia divulgados na última sexta-feira mostram que mentira tem perna curta", diz Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil. "Esperamos que essa revisão no ano que vem nos traga ambição - a NDC atual, anunciada aqui na COP, não fez mais do que nos levar de volta aos patamares anunciados pelo governo em 2015", completa.
Revisão das NDCs
- Tornar-se carbono neutro até 2050 e cortar em 50% as emissões até 2030: O governo brasileiro sinalizou que a meta do carbono neutro deve ser alcançada por meio de compensações via mercado de carbono, e não pelo corte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Portanto não teremos uma real diminuição das emissões, e sim uma concessão para que os grandes poluidores continuem poluindo por meio da compra de créditos de carbono.
- Redução em 30% da emissão de metano até o final da década, em relação a 2020, em conjunto com mais de 100 países: Para isso o país precisará diminuir seu rebanho bovino, principal emissor desses gases no Brasil e responsável por mais de 70% das emissões de metano.
- Fim do desmatamento até 2030, em conjunto com mais de 100 países, com a mobilização de 19,2 bilhões de dólares para esse esforço: Na prática, essa meta dá sinal verde a mais uma década de destruição da floresta e voltamos para os patamares anunciados em 2015.
Apesar da delegação brasileira deixar de fora a sociedade
civil dos espaços de negociação da COP, ela se fez presente e fez história.
Além da maior delegação indígena de todos os tempos, contou também com a
representatividade das comunidades tradicionais, juventudes e movimentos
sociais, como o negro e feminista, e organizações não-governamentais. E apesar
das dificuldades impostas pela pandemia e restrições do governo inglês no que
foi uma das COPs menos acessíveis já existentes, deixou seu recado: estamos de
olho e não vamos descansar!
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