Confira a importância histórica do Modernismo
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi marcada por artistas, intelectuais, escritores e empresários que se uniram para realizar dias de intensa demonstração de ideias, manifestos, obras, exposições, experimentos e leituras para um público burguês no Teatro Municipal de São Paulo. O objetivo da manifestação artístico-cultural foi de mostrar as inquietações modernistas e inserir a cultura brasileira nas reflexões da época.
No momento em que foi realizada, poucos souberam de sua existência. A maioria das pessoas não conhecia as ideias defendidas pelo movimento por não terem condições de frequentar determinados ambientes e por não terem acesso a noticiários e publicações a respeito. Logo, a elite era o público-alvo e a repercussão inicial foi focalizada em São Paulo.
De acordo com Leslye Revely, professora de Arte, Criatividade e Comunicação da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), campus Higienópolis, os efeitos da Semana de Arte Moderna foram sendo construídos com o tempo, considerando os seus textos, as obras, as repercussões e as publicações a partir dessa exposição. A principal importância intelectual estava em modernizar os pensamentos a respeito da arte e, ao mesmo tempo, refletir como se dá essa modernidade no Brasil. Dessa forma, os modernistas tiveram que lidar com o seguinte problema: uma vez que, nas grandes cidades brasileiras, estava o desejo do moderno, as novas formas de comportamento descaracterizavam o “ser brasileiro”, já que nas grandes capitais industriais copiavam as maneiras de ser de culturas principalmente francesas e americanas.
Sendo assim, os modernistas foram para o interior do país, pois lá existia uma cultura brasileira mais genuína -- trabalhadores rurais, mulheres camponesas, negros, índios, cultura popular, ainda não totalmente influenciados pela vida industrial. O modernismo brasileiro resgatou esse passado cultural para pensar em identidade nacional moderna. Anos mais tarde, os pensamentos modernos foram se sofisticando junto com a ideia de que o Brasil sempre “absorveu” simbolicamente todas as culturas que ele encontrou e, depois, digeriu regurgitando ao seu modo. Isso mostra nossa capacidade de miscelânea cultural e esse efeito poético simbólico pode ser visto no texto “Manifesto antropofágico”, de Oswald de Andrade, e na tela Antropofagia, de Tarsila do Amaral, ambos de 1928.
Leslye Revely destaca que a Semana de Arte Moderna foi um grito. “Como todo grito, ainda não muito calculado em intensidade de sons e ruídos, não foi bem aceito, uma vez que as ideias eram muito diferentes das já conhecidas, gerando resistências e atritos. Porém, o barulho foi de extrema importância para nos apresentar angústias dos nossos pensadores modernos”.
Com as publicações de Mário de Andrade e Oswald de Andrade, peças de teatro foram encenadas, mais textos foram publicados, Villa-Lobos foi convidado a dar aulas de música em escolas públicas do país, Cândido Portinari fez arte em edifício público do Rio de Janeiro, o próprio Mário de Andrade foi criador do SPHAN (Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que se tornaria o IPHAN -- Instituto Patrimônio Histórico Artístico Nacional), entre outros. Ou seja, os participantes da Semana de Arte Moderna foram distribuídos para aplicar as discussões do grito inicial em mais práticas sociais, obras artísticas e literárias.
“Macunaíma (1928) de Mário de Andrade, por exemplo, foi uma obra que resultou das ideias pós semana. Nesse livro, considerado uma obra-prima do modernismo no Brasil, trata-se de uma colcha de retalhos de lendas brasileiras, recolhidas pelo autor durante viagens no país, que conta a história de um personagem anti-herói típico das terras brasileiras, com uma escrita moderna e elementos populares do Brasil”, afirma Revely.
A docente do Mackenzie pontua que a Semana de Arte Moderna foi muito importante por conta da memória, essencial para nos conscientizar culturalmente e relembrar feitos, dando valor às nossas produções. “A criação literária e artística dos artistas modernos são referências até hoje para expressões no geral. Foi um marco importante, porque foi uma semana muito corajosa na qual artistas tiveram a possibilidade de expor suas ideias e inquietações a respeito da arte brasileira. E a coragem é algo raro hoje em dia”.
Leslye Revely comenta que a ousadia que esses artistas tiveram, “dando a cara para bater”, e rompendo com barreiras sociais, são extremamente importantes para qualquer transformação social. O grito é ruptura, traz inquietações e tumultua, mas liberta a voz reprimida e pode ser crucial para a melhoria de uma sociedade.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 71º posição
entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa
Times High Education 2021, uma organização internacional de pesquisa
educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior
e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis,
Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam
Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização,
Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
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