Patrick Baudon*
O saneamento básico é um dos principais assuntos relacionados ao desenvolvimento social e econômico do País e existe grande pressão de seu alinhamento com foco nos resultados ambientais, sociais e de governança (ESG). E, embora o setor ainda tenha um relativo atraso em evolução tecnológica quando comparado a outros setores da economia, a projeção é de que o saneamento receba nos próximos anos um montante de recursos em um ritmo nunca observado, aponta pesquisa realizada pela EY e a Abdib.
A necessidade de investimentos rápidos e certeiros é puxada pelo Marco Legal do Saneamento Básico, que prevê redução do nível de perda de água de 51% para 33% até 2033. Além disso, atualmente apenas 55% da população brasileira é coberta com rede de esgoto e 84,1% com abastecimento de água por rede. Pelo Marco Legal, empresas do setor precisam atender 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgotos até 31 de dezembro de 2033.
Outro ponto que traz uma revolução no setor é que, desde 2021, empresas privadas podem concorrer em leilões de concessões de empresas de saneamento, o que gera a necessidade de grandes investimentos para que exista uma governança completa em termos de sistemas e dados, e a possibilidade de escalonamento, já pensando na entrada de novas concessões na operação. Com isso, grandes investimentos serão feitos e a tecnologia será a habilitadora para atingir esses objetivos desafiadores.
O uso da de tecnologias como Inteligência Artificial, Big Data e de dispositivos IoT (Internet das Coisas) entram como artifício fundamental na gestão de perdas, tanto técnicas quanto comerciais, e trazem a possibilidade de rastrear e coletar dados para apoiar na tomada de decisão, na predição de eventos, no combate aos vazamentos, nas falhas nos sistemas de medição e nas ligações clandestinas entre outros indicadores. Com a IA, é possível agilizar processos que antes demoravam de 30 a 45 dias para se gerar uma informação e, agora, passamos a tê-la em tempo real, assim como é possível obter insights preditivos de ações, como o volume de água que um bairro vai consumir em determinado horário para monitorar padrões suspeitos de consumo.
Além de possibilitar uma gestão mais eficiente para as empresas de saneamento, a IA gera diversos ganhos como a economia direta em energia, que corresponde a 40% dos custos do tratamento de água, produtos químicos, uso de equipamentos, diminuição de atividades sobrepostas e melhor direcionamento de seus investimentos, entre outros aspectos.
Já para o consumidor, o uso de tecnologias promove a melhoria no serviço prestado e no atendimento pelos canais de comunicação. É possível, por exemplo, desenvolver soluções que apoiem o usuário a ter mais entendimento da sua fatura, além de promover a autoleitura do seu consumo de água e fornecer informações sobre interrupções de fornecimento em sua região, entre outros serviços.
Para atingir as metas do Novo Marco Legal, as empresas precisam reduzir o nível nacional de perdas de água, assim como se alinhar à agenda ESG e fazer uma gestão com visão globalizada. Estes desafios só serão possíveis com a mudança de gestão, objetivando a melhoria de processos e o investimento em infraestrutura e inovação. O investimento em tecnologia permitirá às empresas terem uma maior assertividade em todos esses processos, possibilitando uma tomada de decisão baseada em fatos e a melhoria contínua do atendimento ao cliente.
*Patrick Baudon é diretor comercial de Energy &
Utilities da Engineering. companhia global de Tecnologia da Informação e
consultoria especializada em Transformação Digital.
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