O Blog "Companhia das Entrevistas" realizou uma entrevista muito agradável e construtiva que vai contribuir com a percepção em relação ao profissional da área de educação e todo o universo que envolve o saber. Com vocês Márcia Rodrigues, Coordenadora Pedagógica da Planeta Educação.
Blog: A responsabilidade de educar continua nas mãos dos pais?
Blog: A responsabilidade de educar continua nas mãos dos pais?
Márcia Rodrigues: A família tem como função primária educar, esse é seu principal papel na socialização da criança com o mundo. Além de ser indispensável para o desenvolvimento das relações de afetividade, desempenhando também o papel da educação de valores éticos e morais, regras de convivência em grupo, enfim a família transmite a educação geral e parte da formal em colaboração com a escola.
Blog: Qual o papel do professor perante uma situação de falta de educação das crianças?
Márcia Rodrigues: O professor precisa antes de mais nada, compreender que a “falta de educação” ou de “limites” estabelecidos ou não pela família é um sintoma de que algo não anda bem, que as duas instituições – escola e família- não estão trabalhando juntas no sentido de desenvolver ações e reflexões sobre comportamentos e papéis da família e da escola. É indispensável que família e escola entendam claramente que papéis desempenham na vida do aluno e, por isso, é necessário pôr fim à incompreensão das famílias referente à linguagem escolar e aos procedimentos adotados na avaliação de seus filhos, de forma que suas intervenções sejam efetivas e construtivas. O professor e a escola podem desenvolver debates e grupos de reflexão que ajudem a cada um encontrar seu papel na educação dos filhos.
Blog: É perceptível que o professor além de ser responsável pelo aprendizado, também está responsável pela educação?
Márcia Rodrigues: Existe uma terceirização da educação familiar tanto para a escola como para outras instituições. É como se a responsabilidade de educar fosse terceirizada para a escola. Ao invés de culpar uns aos outros, professores e pais devem atuam juntos, de forma única, como parceiros com iguais atribuições e responsabilidades, para construir confiança e estabelecer relações em que eles possam utilizar o tempo para dividir sonhos, expectativas, experiências e ferramentas visando o sucesso acadêmico das crianças. Uma vez que a relação é estabelecida, os parceiros ganham força, encontrando um no outro suporte para a necessária realização de mudanças que garantam aos estudantes experiências de sucesso acadêmico e social.
Blog: É possível ensinar e educar ao mesmo tempo?
Márcia Rodrigues: É possível sim...Não se educa sem se ensinar, a aprendizagem sem mudança de comportamento é efêmera e sem valor.A escola e a família devem assumir juntas o papel de educar e ensinar, devem trabalhar na formação de valores e conhecimentos para a vida, preparando os alunos para enfrentar o mundo e suas adversidades, nem a escola nem a família conseguirão educar e ensinar separadas. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser constante e consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e complementares. É importante que pais, professores, filhos/alunos compartilhem experiências, entendam e trabalhem as questões envolvidas no seu dia- a- dia sem cair no julgamento “culpado x inocente”, mas buscando compreender as nuances de cada situação, uma vez que tudo o que se relaciona aos filhos tem a ver, de algum modo, com os pais e vice-versa, bem como tudo que se relaciona aos alunos tem a ver, sob algum ângulo, com a escola e vice-versa.
Blog: Em relação ao Enem, é uma boa ideia ser utilizado como forma de ingresso nas universidades?
Márcia Rodrigues: O Enem surgiu como uma ferramenta de avaliação do Ensino e hoje já é um dos melhores instrumentos para o ingresso nas universidades, é uma grande oportunidade para que alunos de todo o país possam ter a oportunidade de ir bem na prova e isso facilitar o acesso a Universidade. Várias universidades aceitam a nota do Enem como ingresso e outras utilizam a nota na composição do vestibular, aumentando muito as chances de acesso ao Ensino Superior.
Blog: O Prouni, na sua opinião, veio para preencher uma lacuna vazia em relação ao acesso de pessoas de baixa renda nas universidades particulares?
Márcia Rodrigues: Por meio do Enem, o aluno também favorecido com a nota para a participação no Prouni, aumentando as chances de ter acesso ao Ensino Superior.Vejo como um processo de democratização muito importante para que estes alunos consigam ter seu sonho realizado, apesar de que, não basta ter o sonho de entrar para uma Universidade e não conseguir terminá-la.É preciso garantir não só o acesso mas também a permanência na universidade.
Blog: Qual a sua opinião em relação à utilização das notas do Enem pelas escolas particulares de ensino médio, no sentido de divulgar uma espécie de ranking na propaganda ?
Márcia Rodrigues: É comum as escolas particulares utilizarem todo tipo de aprovação ou notas boas para a divulgação do seu trabalho, porém é importante relembrar que o próprio Mec tem algumas ressalvas sobre estas comparações, destacando que as médias do Enem tem se revelado um importante elemento de mobilização pela qualidade da educação, auxiliando professores, diretores e demais dirigentes educacionais na reflexão crítica sobre o processo educacional desenvolvido no âmbito da escola. No mesmo texto, é enfatizado que a utilização dos resultados deve ser considerada com cautela, diante do caráter voluntário do exame. O ministério chama a atenção, ainda, para o fato de que, muitas vezes, a taxa de participação é pequena, o que torna o resultado pouco representativo da situação da escola.