Curso de libras muda a vida de pacientes e servidores do Hospital de Apoio
Surdos mudos afirmam que iniciativa facilita a comunicação e aproxima a equipe
BRASILIA (20/04/16) - Minha vida se tornou mais leve. Foi assim que o funcionário terceirizado do Hospital de Apoio de Brasília, Pedro Lino, declarou se sentir após os servidores da unidade terem iniciado as aulas de Libras, no primeiro semestre de 2015. Surdo e mudo desde que nasceu, ele confessa que a convivência entre as pessoas mudou e que ser entendido pelos colegas é uma grande demonstração de respeito.
O curso já está em sua terceira turma do módulo básico, que tem carga horária de 24 horas, e a previsão é que o mais avançado tenha início no segundo semestre deste ano. Essa fase, segundo o técnico administrativo, Cristian da Cruz Silva, será mais de conversação. "Já apresentamos um vocabulário de mais de 600 sinais, vocabulário básico para uma conversa cotidiana". Serão convocados os 36 alunos que já receberam a primeira certificação.
O pedido para capacitar os servidores na língua foi da própria direção do hospital, atendendo uma demanda interna. "Vez ou outra encontrava aqui funcionários surdos mudos e, como já tinha intimidade com a libras, me pediram para ser o professor", disse Cristian, que tem essas próprias pessoas como colaboradoras. "Essa aproximação favorece a fixação do conteúdo para quem está tendo o primeiro contato com a língua".
O professor afirmou que atualmente é visível a modificação ocorrida no ambiente do hospital. "Não somente o surdo se comunica com o ouvinte que fez o curso, mas entre nós já se formou uma comunidade. Às vezes, amigos ouvintes estão distantes um do outro e conseguem se comunicar à distância". Além disso, segundo Cristian, cresceu muito o senso de pertencimento, de aceitabilidade, de respeito, e de atenção.
Não apenas os servidores estão sendo beneficiados com a iniciativa, os pacientes também estão colhendo os frutos desse trabalho. O fonoaudiólogo e aluno da turma, André Farias Pessoa, disse que está ensinando libras aos dois pacientes que perderam a fala por problemas neurológicos. "É claro que ainda não sei muito bem, mas já dá para me comunicar com eles, que também não conseguem escrever", disse empolgado o profissional.
Outro servidor que também se empolgou com as aulas de libra foi Wellington Carlos Bispo de Brito, de 27 anos. Trabalhador terceirizado há três anos na unidade, ele disse que apenas no seu turno tem quatro colegas surdos mudos. "Tinha muita curiosidade de conversar com eles e, com o curso, além de conseguir agilizar o lado profissional, vou poder inserir no meu currículo mais uma capacitação", concluiu.