Hortaliça
pouco conhecida será alternativa de cultivo para o Cerrado
Agência Embrapa de Notícias - 25/02/16 | Produção
vegetal
Foto: Paula Rodrigues
Uma pesquisa em andamento está avaliando a
viabilidade de cultivar physalis nas condições do Brasil Central, onde
predomina o bioma Cerrado. A physalis é uma hortaliça fruto da família das
solanáceas, da qual fazem parte o tomate, a berinjela e o pimentão. Trata-se de
um fruto pequeno de alto valor e muito utilizado na ornamentação de sobremesas
finas. Os resultados preliminares foram promissores e surpreenderam os
pesquisadores que, apesar das adversidades climáticas, conseguiram garantir uma
boa produção e qualidade do fruto.
"A proposta é estabelecer um sistema de
produção para facilitar os tratos culturais e entender como a planta deve ser
conduzida no campo e, ao mesmo tempo, avaliar as características do fruto que
são essenciais para atender as demandas de mercado", pontua o pesquisador
Raphael Melo, da área de fitotecnia da Embrapa Hortaliças.
Realizado em Brasília (DF), o experimento foi
conduzido em um sistema de transição, sem aporte de qualquer insumo químico, e as
plantas foram tutoradas com bambus e barbantes, para facilitar os tratos
culturais e a colheita, diminuindo a necessidade de intensa mão de obra.
O grande diferencial foi conduzir as plantas em
espaldeira, mantendo até uma altura de 80 cm sem vegetar, somente com a
condução de duas ou três hastes. Dessa forma, a plantas ficaram menos
suscetíveis às pragas como lagartas e obtiveram mais nutrientes
disponibilizados para a copa, que teve franca produção.
"O desenvolvimento da planta ocorreu em um
período de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, condições que não
são favoráveis para a cultura. Por isso, acreditamos que a forma de condução
favoreceu a produção", explica Melo ao sinalizar que o Cerrado pode ser
uma alternativa interessante para produção na entressafra de locais
tradicionais de plantio como Lages, município da região serrana de Santa
Catarina, de clima ameno e altitude elevada.
Frutos mais doces
Além do bom rendimento das plantas, as primeiras
avaliações relacionadas à qualidade do fruto indicaram um elevado teor de
sólidos solúveis, que são compostos responsáveis pelo sabor, principalmente
açúcares. Os valores medidos apontaram frutos com 18º Brix, sendo que um grau
Brix (1º Bx) equivale a um grama de sólidos solúveis, sendo a maioria açúcares,
por 100 gramas de solução, ou seja, 1% de açúcares e demais compostos.
Para physalis, geralmente, o padrão de qualidade do
fruto gira em torno de 13º Bx. Os pesquisadores acreditam que a alta
luminosidade da região do Cerrado, aliada ao modo de condução da planta, possa
ter favorecido uma maior concentração de sólidos solúveis.
"Nessa etapa, vamos iniciar outras análises
como ponto de colheita e vida útil, sob sistema de armazenamento refrigerado e
natural, porque a physalis é um fruto climatérico que, mesmo depois de colhido,
atinge a maturação", explica a pesquisadora Neide Botrel, da área de
pós-colheita da Embrapa Hortaliças, ao destacar que os resultados desses testes
vão favorecer a logística de distribuição para mercados distantes.
Além disso, em parceria com a Embrapa Agroindústria
de Alimentos, localizada no Rio de Janeiro, será realizada a caracterização
nutricional da physalis para mensurar os teores de vitaminas e minerais.
"Devido à coloração do fruto que, quando maduro, fica amarelo intenso,
imaginamos que ele será rico em carotenoides precursores da vitamina A",
sinaliza Neide.
Bom potencial de mercado
Existem diversas espécies do gênero Physalis, sendo
algumas inclusive tóxicas. O fruto comumente comercializado, na forma fresca ou
processada, é da espécie Physalis peruviana, que foi domesticada e
atualmente tem um grande potencial de mercado. No Brasil ocorre a espécie Physalis
angulata, utilizada tradicionalmente na medicina popular e na alimentação,
mas pouco explorada fora do âmbito da pesquisa.
A Colômbia é o maior produtor mundial de physalis,
exportando os frutos para outros países da América, mas principalmente para o
continente europeu. "Nesse país, o sistema de produção apresenta um
elevado nível tecnológico para atender o mercado externo. Enquanto eles focam a
exportação para outros países, o Brasil pode viabilizar a produção para atender
esse nicho do nosso mercado interno e evitar a dependência do produto
estrangeiro", contextualiza o pesquisador Raphael Melo ao ponderar que,
embora o calibre do fruto colombiano seja maior, nosso fruto apresentar maior
teor de sólidos solúveis, sendo, portanto, mais adocicado.
Apesar dos resultados positivos dos experimentos,
ainda faltam ajustes e validações no manejo da cultura nas condições do
Cerrado, tais como nutrição mineral e teor de matéria orgânica no solo, para
alcançar o padrão dos frutos importados e assegurar ganhos para o agricultor.
"No geral, a physalis apresenta um grande potencial para cultivo na região
do Brasil Central, principalmente em pequena escala com foco na agricultura
familiar", conclui o pesquisador, que espera estabelecer bases para um
futuro sistema de produção e, assim, garantir mais segurança para os
investimentos na cultura.
A cereja dos doces
Fruto pequeno, mas de alto valor agregado, a
physalis ocupa posição de destaque na ornamentação de doces finos e, além da
leve acidez complementar o sabor do chocolate, seu tom alaranjado oferece um
contraste e um belo efeito visual nas vitrines de confeitarias e nas mesas de
festas. As pequenas folhas que envolvem a physalis, na verdade, são chamadas de
cálice ou capulho e funcionam como uma embalagem natural, protegendo o fruto
que é delicado e possui casca bem fina.
A physalis está sendo estudada no âmbito do projeto
"Avaliação agronômica, caracterização nutricional e estudo da vida útil de
hortaliças não convencionais", que busca tornar acessíveis informações
sobre essas espécies com o intuito de fomentar a produção, o consumo e a
comercialização. Além dela, as outras hortaliças analisadas são:
almeirão-de-árvore, amaranto, azedinha, beldroega, bertalha, capuchinha,
cará-do-ar, caruru, chuchu-de-vento, jambu, major-gomes, mangarito, muricato,
ora-pro-nobis, peixinho, serralha, taioba e vinagreira.
Telefone: (61) 3385-9109
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
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