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sexta-feira, 27 de abril de 2012

78. Dr. Jorge Maranhão / Corrupção / A Voz do Cidadão


                                 Foto: Divulgação


O Blog Companhia das Entrevistas tem a honra de contar com a participação do Dr. Jorge Maranhão, publicitário e diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadãoum instituto que tem como objetivo incentivar e difundir a cultura de cidadania, a consciência e o exercício dos direitos e deveres civis coletivos. Acompanhe a entrevista:



Blog: A corrupção é uma questão que está inserida na cultura do Brasil, e por isso ela é tão comum?

Dr. Jorge Maranhão: Na verdade, corrupção existe em qualquer sociedade humana. O que temos no Brasil é um sistema de Justiça incrivelmente confuso e lento, que oferece uma quantidade quase ilimitada de recursos para retardar a sentença final. Com isso, aqueles que possuem acesso  a bons advogados conseguem se livrar das penas cabíveis. O que quero dizer é que, no Brasil, o problema é de impunidade, e não tanto de corrupção. Nos últimos anos sociedade como um todo tem se mostrado indignada com a impunidade, o que é uma boa notícia.
Depois da pressão pela aprovação da lei da Ficha Limpa, uma lei surgida do esforço de dezenas de entidades da sociedade civil organizada - que conseguiu amealhar mais de cinco milhões de assinaturas de cidadãos conscientes de sua importância - temos visto a tramitação de alguns marcos legais no Congresso que buscam um combate mais rigoroso à corrupção e à impunidade, como a Lei de Responsabilização de Pessoa Jurídica, que pune administrativa e civilmente pessoas jurídicas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. Também está tramitando a Lei da Responsabilização Civil do Estado, que obriga reparações aos cidadãos em face de danos causados pelos agentes do Estado, além de agilizar o pagamento de indenizações por prejuízos a terceiros pela ação ou omissão de seus agentes ou órgãos. E mesmo a Lei do Fim do Foro Privilegiado, proposta de Emenda Constitucional que veda a aplicação do foro privilegiado a crimes comuns, de matéria exclusivamente penal. Esta última, uma das grandes incentivadoras da impunidade na área política. Sem falar da chamada PEC dos Recursos, que promete reduzir drasticamente o número de recursos possíveis em cada ação penal. Na verdade, o que é fundamental é que os veículos de comunicação de massa - em conjunto com formadores de opinião como o Companhia das Entrevistas e outros - passem a divulgar esses temas e a conscientizar os cidadãos sobre o impacto benéfico dessas legislações sobre o dia a dia de cada um de nós.

Blog: Com a educação de nossas crianças, podemos evitar adultos corruptos?

Dr. Jorge Maranhão: Em países onde a cultura de cidadania já vem se desenvolvendo há mais tempo, os temas ligados à cidadania fazem parte da grade curricular das crianças desde a mais tenra idade. Na Inglaterra, por exemplo, existem instituições privadas como a Citizenship Foundation, que se dedicam a defender e divulgar a cidadania nas escolas, através da difusão desse debate nos meios de comunicação, da realização de concursos pelas escolas de todo o país e de visitas dos alunos aos poderes públicos locais, regionais e até mesmo central. Sem falar da presença forte nas modernas ferramentas de internet, como as redes sociais. Com isso, os princípios básicos da cidadania, como a moralidade política, a noção de bem comum, a transparência no poder publico, o controle social, o combate à corrupção e à impunidade e tantos outros, já fazem parte da formação do adulto no momento em que chega a sua vez de exercer cargos políticos ou de chegar a algum tipo de nível de decisão, seja empresarial, público ou social. No Brasil, desde o início dos anos 80, foi retirada da grade curricular as disciplinas que minimamente se propunham a levar esses conceitos às crianças e adolescentes, como as extintas Moral e Cívica, Estudo dos Problemas Brasileiros e Organização Social e Política Brasileira. Estas matérias sucumbiram por terem projetado para a sociedade a imagem de serem manipuladas pela ditadura militar, mas, com as devidas correções programáticas, são de fundamental importância na formação de cidadãos exemplares, conscientes de seus direitos mas também de seus deveres - incluindo o combate à corrupção - perante a sociedade e o país.

Blog: A cidadania é exercida também com o direito a informação, na sua opinião, qual a importância da transparências das contas públicas que envolvem os gastos e investimentos de nossos impostos?

Dr. Jorge Maranhão: A “matemática” é simples: se sabemos o quanto e como gastamos, sabemos o que fazer para limitar ou racionalizar esses gastos. Pode não parecer, mas em algumas áreas já avançamos muito nesse quesito. Depois da promulgação da Constituição Cidadã de 1988, vimos a criação e o fortalecimento de diversas instituições de Estado destinadas à realização do que se chama “controle” das remessas de dinheiro público para outras instituições públicas ou entidades e empresas privadas. É o caso da rede dos tribunais de contas federal, estaduais e municipais, a ampliação da ação e o desenvolvimento de instrumentos da Controladoria-Geral da União, e até o trabalho desenvolvido pela Advocacia-Geral da União, que defende os interesses da União (ou seja, o dinheiro e o patrimônio público) em questões na justiça. Por outro lado, com a aprovação da Lei do Acesso a Informações Públicas, no final do ano passado, os cidadãos passam a contar com mais um instrumento de recuperação de informações para que possam realizar com eficiência o controle social sobre mandatos e orçamentos públicos. O que é preciso, assim como na primeira pergunta, é que se divulgue para a sociedade o trabalho dessas instituições e que se valorize os servidores concursados, capacitados para exercerem suas funções e compromissados com o bem público.

Blog: No Brasil, pagamos muitos impostos?

Dr. Jorge Maranhão: A resposta é sim, evidente, mas não é tão simples assim. Hoje pagamos em impostos o equivalente a 36% do PIB do país, que é a soma de tudo o que produzimos. Esse é um valor alto em comparação com outras nações, mas é ainda mais pesado para o bolso dos cidadãos quando comparamos com os serviços que o Estado deveria oferecer em troca, e não o faz. Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário-IBPT no início deste ano revelou que dentre os 30 países do mundo com maior carga tributária, o nosso Brasil apresenta o pior desempenho em retorno de serviços públicos à população. Como um resultado quase direto dessa distorção, temos que o Brasil aparece como a sétima ou oitava economia do mundo, ao mesmo tempo em que amarga um 84º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, que mede dentre outras coisas o nível de acesso dos cidadãos a serviços básicos do Estado, como saúde, justiça e segurança.

Blog: Para os visitantes do Blog Companhia das Entrevistas, que queiram participar com ideias e sugestões para melhorar os direitos e deveres coletivos, como participar das atividades do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão?

Dr. Jorge Maranhão: O Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão se dedica a um intercâmbio permanente de ideias com as demais organizações de sua rede, igualmente dedicadas ao tema do controle social. Essas organizações hoje somam mais de 30 mil cidadãos diretamente interessados nas diversas questões da cidadania e envolvem perto de três mil entidades dos mais diferentes tamanhos e orientações de atuação. Para interação dos mais variados grupos, temos um portal com diversas ferramentas, como um Mural da Cidadania para troca de ideias e experiências. Já os associados ao Instituto podem publicar no portal artigos próprios, desde que do interesse da cidadania, e cujo tema entra na lista preliminar para possível pauta de nossos boletins semanais na rede CBN e rádio Globo nacional. Convidamos desde já os visitantes do Blog das Entrevistas a acessar o www.avozdocidadao.com.br e conferir nossas informações, dicas e atualidades. Seguramente o maior portal de conteúdos sobre cidadania em língua portuguesa. Sejam bem-vindos!