Indústria têxtil e de confecção pede que Copom pare de aumentar Selic
Para a entidade representativa do setor, as doses do remédio já atingem níveis letais para o paciente. País tem um tipo de inflação contra o qual juro alto é inócuo
Consenso do mercado indica subida de 1,5 ponto percentual da Selic, na reunião do Copom desta semana, dias 1 e 2 de fevereiro, elevando-a a um patamar superior a 10% ao ano. “No último aumento da taxa, em outubro de 2021, nós ponderamos que seria importante o Banco Central parar com sua escalada, porque a economia não está forte. Está andando de lado, com alguns poucos segmentos em situação ligeiramente melhor”, ressalta Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
O dirigente acentua que juros altos inibem o investimento e o consumo. Ao mesmo tempo, cabe lembrar que o Brasil ainda tem memória inflacionária que não pode ser negligenciada. “O pior que poderia acontecer seria uma reindexação forte da economia. Assim, o grande desafio do Banco Central é encontrar o ponto de equilíbrio entre os dois fatores, levando em conta que o remédio da Selic não pode ser administrado em doses que sejam letais ao paciente, ou seja, a indústria, o comércio, os setores produtivos e o consumidor. Este último ficaria com muita dificuldade para honrar seus compromissos”, analisa.
Normalmente, há uma demora de seis a nove meses para os efeitos da taxa de juros manifestarem-se de maneira completa. “Já estamos sofrendo hoje as consequências da elevação da Selic em 2021. Por isso, a indústria têxtil e de confecção e a Abit entendem ter chegado a hora de interromper esse ciclo”, ressalta Pimentel, alertando que o mercado de consumo voltou a piorar, devido às restrições impostas pela variante ômicron.
O dirigente cita o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV, que apresentou queda de 1,4 ponto percentual em janeiro deste ano. “A inflação e o mercado de trabalho, com desemprego ainda muito elevado, são os grandes vilões provocadores dessa queda. Entretanto, as causas das pressões inflacionárias atuais não são do tipo que se combate com juros altos. Trata-se de uma consequência das desestruturações nas redes de produção, distribuição e oferta dos produtos”, explica Pimentel.
O dirigente observa que nos Estados Unidos, por exemplo, o
problema é semelhante. “Lá, também é anunciado o aumento dos juros e redução de
incentivos, mas o Brasil acelerou fortemente e em níveis muito mais elevados a
escalada da Selic. Isso é ruim para as contas públicas e a economia, pois é uma
estratégia nociva para a retomada do crescimento e a geração de emprego e
renda”, conclui o presidente da Abit.
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