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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Fauna em Foco

 


Animal silvestre tem nojo?

Juntar os nutrientes e balancear não é uma tarefa fácil. Imagine ter todo esse trabalho e o animal não comer? 

Pois é...passei por situações como essa ao longo da minha vida profissional. 

Lembro de uma situação que me marcou muito.

No Centro de Primatologia quando, conversando com o responsável pelo manejo dos animais sobre o porquê a dieta no Zoológico do Rio não estava funcionando para os micos, ele me disse que provavelmente eles não consumiam por “nojo”. Sim, nojo!

Fazíamos uma deliciosa salada de frutas, verduras e legumes na parte da tarde como complemento à ração e eles nem encostavam na dieta.

O caldo das frutas não agradava... “experimente cortar a fruta em pedaços um pouco maiores, com a casca, de maneira que eles consigam manusear o alimento, como fazem em vida livre” – disse ele. *

Passei um período observando os animais do Centro e adaptei a dieta para o tipo de corte que eles usavam. E não é que funcionou? .

Para elaborar uma dieta nutricionalmente equilibrada não basta entender sobre nutrientes. É preciso dedicar parte do seu tempo de estudo entendendo a forma como os animais enxergam os alimentos, como sentem o cheiro, os sabores e como manuseiam.

Também é de igual importância entender como se comportam em sociedade (claro, para aqueles que vivem em grupos).

Em 2017, Casali et al. apresentou um estudo sobre a morfologia da língua das diferentes espécies de tamanduás (confesso que tenho uma queda pelos estudos com esses narigudos!), fazendo uma correlação importante sobre a estrutura da língua e o hábito alimentar.

Garantir que todos tenham acesso aos alimentos disponibilizados significa garantir que estão recebendo os nutrientes necessários.

​Prof. Msc. Ana Raquel 


Devemos ou não oferecer a semente de girassol aos papagaios?

Na verdade cometemos erros gigantes ao condenar simplesmente um alimento.

Em relação à digestibilidade pode-se dizer que é um dos alimentos mais bem aproveitados pelos papagaios, no entanto, quando oferecido ad libitum (à vontade), as aves tendem a consumir muito mais do que precisam devido ao elevado teor de gordura que, por sua vez, aumenta a palatabilidade do alimento.

Mas e na natureza? Essas aves não consomem alimentos ricos em gordura? Sim! Mas há uma relação entre a demanda energética e o nível de atividade. As aves em seu ambiente natural demandam muito mais energia do que as mantidas sob cuidados humanos.

E não é só energia que importa. Apesar de apresentar índices elevados de proteína (24%), a relação Cálcio e Fósforo deixa a desejar.

Um estudo avalia o oferecimento da semente como dieta única e a transição da dieta para uma ração equilibrada, mostrando ganhos expressivos para a saúde dos animais ao retirar a semente.

Em síntese, jamais a semente de girassol deve ser fornecida como alimento único e à vontade, no entanto, está claro que trata-se de um alimento que, além de ser apreciado pelos animais, possui nutrientes importantes que podem compor a dieta.

Resta ao profissional que avalie a situação e faça o balanceamento adequado da dieta. Pontos importantes que devem ser considerados quando o girassol é acrescentado na dieta:

1.Quantidade: como eles têm uma predileção por esta semente e muitos deixam de consumir outros alimentos (inclusive rações) para se alimentar exclusivamente da semente. A sugestão neste caso é deixar as sementes para atividades específicas de enriquecimento ambiental e/ou condicionamento.

2.Qualidade: as sementes, quando mal armazenadas ficam suscetíveis ao desenvolvimento de Aflatoxinas, que são micotoxinas produzidas por fungos do gênero Aspergillus, causando uma série de prejuízos ao organismo do animal com a supressão do sistema imunológico e consequentemente a diminuição da resistência a  enfermidades. 

​Prof. Msc. Ana Raquel 

Onde posso encontrar o informações sobre aparelho digestivo dos vertebrados?

Mais uma fonte de informações super legal para quem trabalha com selvagens.

O comparative nutrition Society (CNS) disponibilizou em seu site um link para acesso a um conteúdo fantástico organizado por Esther J. Finegan, PhD - University of Guelph e Edward Stevens, PhD, DVM - Department of Molecular Biomedical Sciences, College of Veterinary Medicine.

O conteúdo aborda desde aspectos gerais da anatomia comparada de vertebrados até a evolução do sistema digestivo, passando pelos processos digestivos e trazendo, ainda, ilustrações fantásticas de muitas espécies.

É um material muito importante para todos os profissionais que trabalham com nutrição de animais selvagens.

Aproveitem!!

Site: https://www.cnsweb.org/digestive_system_of_vertebrates/

Prof. Msc. Ana Raquel 

Como manter-se atualizado sobre manejo alimentar e nutricional de animais selvagens?

Uma forma de manter-se sempre atualizado sobre manejo alimentar e nutricional de animais selvagens é conhecendo o trabalho que os grupos de nutrição fazem nas Associações.

Temos o exemplo do Nutrition Advisory Group (NAG) - https://nagonline.net/

European Zoo Nutrition Center (EAZA) - http://www.eznc.org/

Comparative Nutrition Society (CNS) - ok

Recentemente a Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB) montou o grupo de nutrição que está sob a coordenação do Zootecnista Lucas Carneiro, responsável pelo setor de Nutrição do Zoológico de Brasília.

Hoje o grupo atua no desenvolvimento de protocolos para as 25 espécies ameaçadas do acordo de cooperação entre a AZAB e o Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Temos outros exemplos de profissionais que atuam diretamente em Zoológicos brasileiros como os Zootecnistas Henrique Tavares (Parque das Aves), Gabriel Werneck (Zoológico de Sorocaba), Claudia Ladeira (Zoológico de Baurú) e tantos outros colegas Zootecnistas, Médicos Veterinários e Biólogos que estão dedicando a sua vida profissional ao estudo mais aprofundado da nutrição de animais selvagens.

São tantas as iniciativas que só temos que nos alegrar com as novas perspectivas para esta área em crescimento, para gestação e, especialmente para fêmeas em lactação geralmente serão mais altas, especialmente em primatas de pequeno porte.

​​Prof. Msc. Ana Raquel ​​



Posso legalizar um animais silvestre?

Não é possível legalizar um animal silvestre de origem ilegal.

A Lei nº 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais não prevê a possibilidade de regularizar animais silvestres ilegais, ou seja, aqueles oriundos do tráfico de animais, aprisionados da natureza, etc.

E se o animal estiver comigo há mais de 30 anos? É possível pedir a legalização dele para ser de minha propriedade?

A resposta também é não!

A possibilidade que existe, em alguns casos, mediante análise do judiciário, a depender do caso, é ser conferida a posse para a pessoa, a guarda do animal.

Mas esta é uma exceção, que cada vez mais tem sido afastada, em especial pelo teor do art. 25, § 1º da Lei 9.605/98.

"Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos.

§ 1o Os animais serão prioritariamente libertados em seu habitat ou, sendo tal medida inviável ou não recomendável por questões sanitárias, entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades assemelhadas, para guarda e cuidados sob a responsabilidade de técnicos habilitados."

Observe que no caso de guarda conferida, termo fiel depositário, o animal não foi legalizado e nem passou a ser de propriedade do cidadão, ele apenas ficou com a posse, com um termo de fiel depositário.

Mas neste caso, o cidadão será multado?

As chances de ser multado existem e é bem provável que sim. Mesmo que seja conferido o termo de fiel depositário, a pessoa não deixou de cometer a irregularidade e assim está passível de penalidade.

A não ser que o juiz deixe de aplicar a pena, analisando as circustâncias, conforme possibilidade esta que é prevista em norma. 

O que posso fazer se tiver um animal silvestre de origem ilegal?

Sob o aspecto jurídico, para evitar que seja penalizado, poderá entregá-lo aos órgãos ambientais competentes, de forma voluntária e não mediante fiscalização.

Prof. Msc. Adv. Dalton Araujo Antunes




Ração de cachorro para jabutis, pode?

Bom, se temos a opção de trabalhar com uma ração desenvolvida especialmente para atender aos requerimentos nutricionais dos jabutis, por que oferecer a ração de cachorro?

Como sempre, é um grande erro simplesmente dizer “não” para um alimento.

Há 20 anos nem falávamos sobre as rações especializadas para animais selvagens e as rações para animais de companhia e animais de produção eram as únicas opções para o balanceamento de dietas.

Por este motivo, o balanceamento era fundamental, mas jamais uma ração para cães era utilizada em grandes proporções na dieta.

Sempre trabalhávamos com o mínimo necessário para balancear o nível de proteína e gordura, e para garantir um aporte mais equilibrado de micronutrientes.

Com o passar do tempo, seguindo os aspectos ecológicos/fisiológicos dos jabutis, mudamos para uma ração de coelhos que estaria mais próximo ao perfil de necessidades nutricionais de um animal com características mais herbívoras e complementávamos com folhagens, flores (principalmente flor do malvaviscos), legumes ralados, frutos e ovos cozidos.

As opções alimentares para o balanceamos de dietas para jabutis são muitas e devem ser trabalhadas sempre em conjunto com um profissional.

Assim, temos a certeza que os animais sob os nossos cuidados estão recebendo o aporte de nutrientes necessário.


​Prof. Msc. Ana Raquel ​​

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