Notícias
Embrapa Algodão
13/01/16 | Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação
Extrato do sisal é testado como inseticida contra o Aedes aegypti
Foto: Flávio Tôrres
Um estudo realizado
pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em parceria com a Embrapa, obteve
um inseticida natural à base de extrato (suco) retirado das folhas do sisal (Agave
sisalana) que se mostrou eficaz contra as larvas do Aedes aegypti,
mosquito transmissor de doenças como a dengue, zika e chikungunya. O produto
ataca o intestino das larvas, levando-as à morte em menos de 24 horas.
Segundo a
vice-diretora do Centro de Biotecnologia da UFPB, Fabíola Nunes, coordenadora
da pesquisa, os ensaios biológicos constataram a morte de larvas a partir da
dosagem de quatro mililitros de suco de sisal para cada 100 litros de água.
"Testamos em larvas e obtivemos um resultado promissor, com 100% de
mortalidade na fase larval, que é a fase aquática", relata. "Fizemos
também testes nas outras fases do inseto (ovo, pupa e mosquito adulto), mas o
produto não tem efeito. Acreditamos que isso ocorre porque na fase de larva o
inseto se alimenta da solução e provavelmente morre por ingestão do produto,
pois verificamos que havia necrose nas células intestinais das larvas",
acrescenta.
Fabíola começou a
pesquisa durante o doutorado na UFPB em 2012. "Eu estava testando outras
substâncias para as larvas do Aedes aegypti quando a Embrapa
solicitou nossa parceria para que o suco do sisal fosse testado em carrapatos e
lagartas. Testamos em larvas e obtivemos um resultado promissor", conta.
O suco do sisal
possui vários compostos orgânicos, com destaque para as saponinas, que podem
causar toxidade, irritação e até morte de carrapatos, lagartas de determinadas
espécies e outros insetos. Conforme a pesquisadora, os testes mostraram que, se
diluído nas proporções recomendadas, a ingestão ou o contato do suco com a pele
não causa nenhum tipo de dano para animais como camundongos e ovelhas.
"Nos testes iniciais, já verificamos que não é tóxico para animais de
laboratório. Precisamos fazer mais testes para determinar a toxicidade para
outros animais," informa.
Os próximos passos
serão realizar os estudos para que o produto seja disponibilizado para as
pessoas de forma segura e com instruções bem detalhadas. "A pesquisa ainda
precisa responder a algumas questões como: por quanto tempo o produto mantém o
efeito; qual é o seu mecanismo de ação; e qual a melhor maneira de
disponibilizar o produto no mercado", afirma Fabíola. Umas das possibilidades
de aplicação é utilizar o extrato de sisal em pó para ser diluído em
recipientes de água parada. Ele poderia ser utilizado em alternância com outros
larvicidas disponibilizados pelo Ministério da Saúde. A pesquisadora explica
que a alternância de produtos de diferentes mecanismos de ação é uma estratégia
adotada para que o inseto não adquira resistência ao produto.
Eficácia contra
lagartas e carrapatos
As propriedades
inseticidas do suco de sisal já eram conhecidas no meio científico, mas havia
uma grande limitação prática: o produto precisava ser aplicado imediatamente
após a coleta porque fermentava em poucas horas. Em 2010, a Embrapa Algodão
iniciou o estudo da viabilidade econômica do uso do suco do sisal para a
produção de bioinseticidas. "Um dos resultados mais importantes da
pesquisa foi conseguir a estabilização do suco, evitando que ele entrasse em
processo de fermentação. Sem nenhum tratamento, o suco deteriora cerca de cinco
horas após a extração e nós conseguimos mantê-lo estável por até 30 dias",
explica o pesquisador da Embrapa Algodão, Everaldo Medeiros.
Outro resultado da
pesquisa foi a obtenção de um extrato concentrado em pó do suco do sisal, que
permite conservá-lo por longo período sem perder suas propriedades. O extrato
em pó demonstrou eficácia contra lagartas do algodoeiro e da soja e carrapatos bovinos.
O produto em pó é obtido após a retirada de toda a água do suco pelo processo
de concentração chamado liofilização, de forma similar ao que ocorre com leite
e café, que consiste na desidratação de substâncias em baixas temperaturas
transformando-o em material sólido de fácil conservação.
"A vantagem do
extrato em pó do suco de sisal é que ele pode ser reconstituído por diluição em
água, o que facilita a aplicação, e ainda conserva as propriedades do material
original", afirma Medeiros.
A pesquisa inicial
do suco de sisal com propósito de bioinseticida foi desenvolvida em parceria
com o Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia
(Sindifibras), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia
(SECTI) e Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
"O material
utilizado pela pesquisa na UFPB foi o produto liofilizado e o suco congelado
estabilizado preparados pela Embrapa durante as fases de teste contra as larvas
do mosquito Aedes Aegypti", diz Medeiros.
O pesquisador
enfatiza que, por enquanto, o produto ainda não está disponível para a
população por ser objeto de estudo e ainda necessitar de aprovação pelos órgãos
regulamentadores no país. "Tanto a universidade como a Embrapa dispõem do
material apenas para fins de pesquisa em pequenas quantidades para os testes
que são realizados. As pessoas devem estar atentas para o fato de que a
manipulação do suco sem o processo técnico correto poderá não trazer efeitos de
mortalidade das larvas," alerta o especialista.
Aproveitamento dos
resíduos do sisal
O sisal é cultivado
principalmente na Bahia e na Paraíba e tem uma gama de aplicações que vai desde
a confecção de fios, cordas, tapetes, sacos, vassouras, artesanatos, acessórios
e o uso como componente automobilístico. O principal produto do sisal é a fibra
extraída das folhas, mas grande parte da planta ainda é desperdiçada. A fibra
equivale a somente 5% do peso das folhas e o restante da produção tem pouco
uso. Em torno de 80% da folha do sisal é composta por suco que pode ser
extraído para combater o mosquito e 15% por mucilagem, que normalmente são
despejados no campo.
"Por um lado,
a pesquisa visa mostrar que parte desse suco é viável economicamente como
inseticida e, por outro lado, desenvolvemos equipamentos que tornaram possível
o aproveitamento dos resíduos sólidos como mucilagem para alimentação
animal", informa o pesquisador da Embrapa Algodão, Odilon Reny Ribeiro.
Um desses
equipamentos é a peneira rotativa que permite a separação das fibras longas
(bucha) da mucilagem para alimentação de ovinos e bovinos na região semiárida.
A tecnologia evita a morte dos animais ruminantes por timpanismo, uma doença
provocada pela ingestão de materiais que não conseguem ser digeridos pelos
animais, como a bucha do sisal.
Por ser rico em
açúcares, nutrientes e outros compostos, o sisal também vem despertando o
interesse de pesquisas para obtenção de substâncias de maior valor agregado
como defensivos naturais, edulcorantes (adoçantes naturais), nanocelulose e
celulose bacteriana (um tipo especial de celulose com várias aplicações em
pesquisas biomédicas, desde a pele artificial para queimados até a engenharia
de órgãos).
Edna
Santos (MTb 01700/CE)
Embrapa Algodão
algodao.imprensa@embrapa.br
Telefone: (83) 3182-4361
Mais informações
sobre o tema
Serviço de
Atendimento ao Cidadão (SAC)