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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Jornalismo Científico // Seminário "Caminhos da Ciência e Desenvolvimento"


Agência Embrapa de Notícias
14/12/15   Comunicação

Embrapa debate "Caminhos da Ciência e Desenvolvimento"


Foto: Jorge Duarte
Jorge Duarte -
Mais de duzentos pesquisadores, gestores de políticas públicas, lideranças empresariais, autoridades governamentais e jornalistas participaram na quinta-feira (2) de um dia de debates sobre o conhecimento científico como fonte de progresso e os desafios para seu avanço sustentável. O seminário "Caminhos da Ciência e Desenvolvimento" foi realizado no Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo, e teve o apoio de diversas instituições.
Os palestrantes trataram de temas como origens e perspectivas da ciência, interfaces com a sociedade, barreiras à construção do conhecimento e comunicação e percepção pública da ciência. O diretor-executivo de Pesquisa & Desenvolvimento, Ladislau Martin Neto, apresentou aos participantes como a Embrapa faz ciência.
Entre os apresentadores estiveram Marcelo Gleiser, diretor do Institute for Cross Disciplinary Engagement; Pamela Ronald, diretora do Laboratório de Inovação Genética na Universidade da Califórnia; Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp; os jornalistas Ulisses Capozzoli, ex-presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico e ex-editor da Scientific American Brasil; e Herton Escobar, do jornal O Estado de S. Paulo.
O "jeito" Embrapa de fazer pesquisa
Ladislau Martin Neto, em sua palestra, mostrou a evolução da agricultura brasileira e o impacto da tecnologia na produção e na sustentabilidade. Também falou sobre as tecnologias convergentes e novos paradigmas da ciência. "Cada vez mais o elemento decisivo entre os fatores de produção é a tecnologia", disse, mas chamou atenção para o fato de que "somente ciência não é suficiente. Ela precisa de atuação articulada, cooperativa e de parceria".
O diretor citou como um dos exemplos o lançamento do sistema Cultivance, realizado este ano em parceria com a Basf. "Com a velocidade com que se desenvolve o mercado e a tecnologia, as instituições de P&D, por si só, não têm condições de acompanhar o desenvolvimento e manterem-se competitivas. Hoje, nenhuma organização concentra todas as competências", afirmou. Uma das alternativas, para ele, é a maior participação da iniciativa privada nos processos de pesquisa e desenvolvimento, "ainda baixa no Brasil em comparação com outros países".
Outro caso que chamou atenção dos participantes do evento foi a descrição do primeiro FACE (Free Air Carbon Dioxide Enrichment) da América do Sul, na Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), fundamental para avaliação dos efeitos do aumento da concentração do dióxido de carbono atmosférico. Além do gás carbônico, também são estudadas alterações de temperatura, aumento da radiação UV-B sobre microrganismos associados às plantas e os riscos potenciais das mudanças climáticas na distribuição geográfica e temporal sobre doenças, pragas e plantas invasoras.
Redes e parcerias
O diretor enfatizou que os resultados obtidos pela agricultura brasileira não devem ser atribuídos exclusivamente à Embrapa. "O Brasil dependeu e continua dependendo de uma rede de organizações, do setor privado, de fundações, universidades, faculdades agrícolas, organizações estaduais de pesquisa".
Martin Neto deu como exemplo das pesquisas em andamento o que está sendo feito em áreas avançadas de impacto global como a agricultura de precisão, mas também apontou o apoio à agricultura local. Citou o programa "Rota do Cordeiro", iniciativa do Ministério da Integração Nacional, com a participação da Embrapa e de parceiros locais, regionais e nacionais, com o objetivo de apoiar a criação de cordeiros e cabritos no Nordeste e todas as atividades ligadas a essa cadeia produtiva.
O fato de a Embrapa contar com um sistema descentralizado presente em todo o País, particularmente nos polos produtores, faz com que ela esteja presente junto ao agricultor e tenha maior facilidade de identificar rapidamente as demandas da sociedade. Essa condição ajuda a contribuir com os bons resultados. Ao mesmo tempo, a Empresa atua fortemente conectada com o que acontece na ciência no exterior, por meio da cooperação científica.
Muitos resultados obtidos pela Embrapa, segundo ele, têm relação com sua capacidade de se comunicar bem com o conjunto da sociedade e seus diversos segmentos, ajudando a garantir apoio ao investimento em pesquisa agropecuária. Também citou a qualificação dos pesquisadores da Embrapa e o que chamou de "líderes visionários" e pragmáticos, como Eliseu Alves e Johanna Döbereiner, que simbolizam o esforço do corpo de cientistas da Empresa para impactar a sociedade a partir dos avanços da ciência.

Comunicação e transparência são desafios para as instituições de ciência

Durante os debates do seminário, o físico, astrônomo e escritor Marcelo Gleiser mostrou como o processo científico permite aprendizados sobre a natureza utilizando a criatividade humana. Ele disse que as organizações de ciência devem estar atentas para a importância de dedicarem esforços especiais a favor da informação e educação da sociedade. Também afirmou que devemos ter a capacidade de ganhar credibilidade. "Estamos na era da confiança, de criar confiança". Uma das estratégias é a ênfase na responsabilidade e transparência corporativa.
Para o físico, as pessoas podem ser manipuladas para o bem e para o mal, e deve haver um compromisso dos cientistas com a comunicação, a disponibilização de informações e a educação. "Temos que fazer um diálogo construtivo que seja capaz de resolver os dilemas atuais".
Informação e orientação
Um dos temas mais debatidos ao longo do dia foi o que poderia ser chamado de "ilhas de obscurantismo" que, por diferentes motivos (da falta de informação a crenças arraigadas), impedem o desenvolvimento da ciência e o acesso a seus resultados. Guido Levi, da Sociedade Brasileira de Imunizações, fortaleceu o debate sobre a necessidade de informação pública sobre ciência a partir dos riscos da falta de conhecimento para a tomada de decisão. Ele conduziu sua argumentação com base em casos de grupos que recusam a vacina como forma de controlar doenças.
Incomodado com o fato de que, apesar de históricas e extensas campanhas, ainda falta informação sobre o assunto, em 21 dias Guido escreveu um livro que hoje disponibiliza de graça na internet. Ele relata motivos como filosóficos, religiosos, medo e falta de orientação correta. Contou que há médicos contrários a todas as imunizações, alguns contra algumas vacinas e aqueles que não a recomendam por descuido ou negligência. E mostrou casos de campanhas antivacinas, mesmo na Europa, onde há maior tradição científica e grupos que as recusam por motivos geralmente religiosos.
Em seu livro, Levi relata que uma enquete na Itália mostrou que 50% das pessoas procuram informações sobre saúde na internet. No entanto, há mais sites contra vacinas, em geral "carregados de informações pseudocientíficas ou até de total ficção", do que a favor, sugerindo que deve haver uma reação dos profissionais e instituições para ajudar a esclarecer a sociedade sobre as questões relacionadas à ciência.
Jornalismo e ciência
Ulisses Capozzoli e Herton Escobar, ambos jornalistas, participaram de um painel sobre a interface da ciência com a sociedade. Eles estabeleceram aproximações entre jornalistas e cientistas e a importância de que ambos atuem juntamente para qualificar a informação que chega ao cidadão e despertar o interesse pela ciência.
Capozzoli, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico (ABJC) por duas gestões, destacou que é responsabilidade do cientista fazer comunicação. "Uma pesquisa somente está concluída quando volta para a sociedade", afirmou. Para ele, a comunicação da ciência também ajuda a combater a falta de informação que leva a decisões erradas.
"A ciência permite reler o mundo. As pessoas têm interesse, mas poucas oportunidades de uma vivência mais fascinante com a ciência". O jornalista destacou ainda que a população brasileira é receptiva à ciência, mas que a divulgação científica pela imprensa tradicional, por exemplo, tem entrado em "declínio". Uma das alternativas mais viáveis é o investimento das instituições em fazer comunicação diretamente com o cidadão.
Herton Escobar, jornalista de O Estado de S. Paulo desde 2000, é especializado em jornalismo científico e ambiental e colaborador da Science Magazine. Ele abordou a relação entre jornalistas e cientistas para dizer que há muito que os une. Ambos gostam de explorar assuntos, são questionadores e produzem informação. Além disso, "atuam a partir de fatos objetivos, são escravos do ineditismo e vivem do publish or perish (publique ou pereça)".
Para ele, jornalistas lidam com assuntos difíceis e às vezes têm muito pouco tempo para preparar um conteúdo que possa ser de interesse e compreendido pelo conjunto da sociedade. Ao mesmo tempo, "escrevem sobre assuntos complexos para alguém que não sabe nada do tema". O palestrante abordou as novas formas de comunicar a ciência, como os blogs, e disse que muitos dos problemas no Brasil sobre restrições a transgênicos têm relação com a forma como foi feita a comunicação no início do processo no País.
Entre as instituições que apoiaram a realização do seminário e estiveram representadas nos debates estão a Associação Brasileira de Biotecnologia Industrial, Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, BNDES, CNPq, Conselho de Informações sobre Biotecnologia, Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Minerais, Fapesp e Finep.
Jorge Duarte 
Secretaria de Comunicação da Embrapa - Secom 
Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/