Alex Catharino
A natural condição de pobreza da humanidade, intrínseca ao problema da escassez, ocasionou, desde a antiguidade grega, o fenômeno de que muitos filósofos, teólogos e juristas, ao discutirem os aspectos éticos da justiça, tivessem abordado, também, questões de natureza econômica. No entanto, a maioria dos especialistas, desde John Stuart Mill (1806-1873), considera que A Riqueza das Nações, de Adam Smith (1723-1790), é o marco inicial da Ciência Econômica, por ter abordado a temática dissociada tanto da Ética quanto do Direito e da Política, bem como devido à adoção do moderno paradigma de cientificidade estabelecido por Sir Isaac Newton (1643-1727), o qual apresentou uma sistematização que viria a se tornar o padrão adotado pela maioria dos analistas posteriores.
Uma análise mais detida do pensamento de Adam Smith, entretanto, demonstra que há uma relação intrínseca entre os fenômenos econômicos analisados em A Riqueza das Nações, de 1776, e as reflexões éticas discutidas em Teoria dos Sentimentos Morais, de 1759. O intento de dissociar as questões éticas dos problemas econômicos foi empreendido por David Ricardo (1772-1823), no livro Princípios da Economia Política e Tributação, de 1817, em que o autor foi guiado pelo cientificismo.
O cientificismo é uma errônea concepção filosófica positivista, sendo caracterizado como uma forma de racionalismo, que extrapola os limites da cientificidade, ao adotar uma postura ideológica, que, dogmaticamente, acredita ser a ciência a única forma válida de conhecimento, em detrimento de saberes de outras naturezas. Dentre os pensadores que criticaram os erros do cientificismo, destacamos os filósofos da ciência Karl Popper (1902-1994), Mario Bunge (1919-2020), Paul Feyerabend (1924-1994) e Hilary Putnam (1926-2016), os economistas Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich August von Hayek (1899-1992), e os filósofos políticos Eric Voegelin (1901-1985) e Michael Oakeshott (1901-1990).
De certo modo, o cientificismo é a raiz de muitos erros propagados por diferentes economistas nos séculos XIX e XX, que serviram como justificativa teórica para a implementação de diversas formas de intervencionismo estatal. A mentalidade positivista perpassa as análises de Karl Marx (1818-1883), de John Maynard Keynes (1883-1946) e, até mesmo, de Milton Friedman (1912-2006), dentre tantos outros economistas. Em última instância, o que diferencia a chamada Escola Austríaca de Economia das demais correntes econômicas contemporâneas são as divergências metodológicas.
No seu monumental tratado Ação Humana, de 1949, o economista austríaco Ludwig von Mises defendeu que “muitos autores tentaram negar a importância e a utilidade da teoria econômica”. O eminente pensador liberal argumentou que “o historicismo pretendia substituí-la por história econômica; o positivismo recomendava substituí-la por uma ilusória ciência social que deveria adotar a estrutura lógica e a configuração da mecânica newtoniana”. De acordo com Mises, “ambas as escolas concordavam numa rejeição radical de todas as conquistas do pensamento econômico”. Ancorados na crença ingênua acerca da possibilidade da descoberta de leis empíricas dos fenômenos sociais semelhantes às leis da física newtoniana, o cientificismo acaba por confundir os modelos teóricos explicativos com a própria realidade, sendo que, no caso específico da Economia, torna-se pretexto para a rejeição das verdadeiras leis econômicas.
Nas obras Princípios de Economia Política, de 1871, e Investigações sobre o Método das Ciências Sociais com Especial referência à Economia Política, de 1883, escritas por Carl Menger (1840-1921), o fundador da Escola Austríaca de Economia, são encontradas inúmeras críticas às tentativas positivistas de desenvolver novas leis econômicas fundadas em estatísticas. Uma parcela significativa das análises elaboradas pelos críticos da economia de livre mercado é derivada de premissas cientificistas, que utilizam a acumulação de fatos irrelevantes, oferecidos por estatísticas duvidosas, como justificativa para diversas formas de intervencionismo governamental. Todavia, apenas a livre iniciativa é compatível com as verdadeiras leis econômicas.
Sobre a FLE
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como forma de gestão. Criada em 2018, a entidade defende fomentar o crescimento
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ao debate e à disputa política.
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