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quinta-feira, 25 de março de 2021

Epidemias aumentam quando biodiversidade declina, alerta estudo

 


A pesquisa oferece uma primeira visão global de como as mudanças na cobertura florestal potencialmente contribuem para doenças zoonóticas e transmitidas por vetores

Um estudo publicado nesta quarta-feira (24) na revista Frontiers in Veterinary Science traz um importante alerta sobre o impacto do desmatamento e de monoculturas na saúde da população mundial. De acordo os pesquisadores da Universidade de Montpellier, na França, surtos de doenças infecciosas são mais prováveis nessas regiões, e as epidemias tendem a aumentar à medida que a biodiversidade declina.

Para chegar a esse cenário, os especialistas examinaram a correlação entre as tendências de cobertura florestal, plantações, população e doenças em todo o mundo usando estatísticas de instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Banco Mundial, a FAO e o banco de dados de epidemias da Gideon. No período de dados coletados, de 1990 a 2016, foram identificados 3.884 surtos de 116 doenças zoonóticas (aquelas que passam de animais para seres humanos) e 1.996 surtos de 69 doenças infecciosas transmitidas por vetores, principalmente por mosquitos, carrapatos ou moscas. A expansão das plantações dendê chamou atenção, pois correspondeu a aumentos significativos nas infecções por doenças transmitidas por vetores, principalmente na Ásia. Os pesquisadores destacam uma meta-análise realizada sudeste da Ásia em que especialistas apontaram para uma associação entre o aumento de doenças como dengue ou chikungunya e a conversão de terras, incluindo florestas, em plantações comerciais de borracha, dendê, entre outros.

“Fiquei surpreso com a clareza do padrão”, afirmou Serge Morand, um dos autores do estudo, ao site Eurekalert.org. “Devemos dar mais atenção ao papel da floresta na saúde humana, animal e ambiental. A mensagem deste estudo é ‘não se esqueça da floresta´.”

Há anos os efeitos negativos do desmatamento para a saúde já são pontuados por pesquisadores ao redor do mundo. Já se sabe que a devastação ambiental no Brasil – por exemplo, o desmatamento de Rondônia na década de 1980 – foi relacionada a epidemias de malária. No sudeste da Ásia, estudos mostram como o desmatamento favorece o mosquito Anopheles darlingi, vetor de várias doenças. No entanto, esta é a primeira pesquisa que ofereceu uma visão global das consequências do desmatamento e das mudanças na cobertura florestal sobre a saúde humana. Para tal, além da correlação estabelecida, que sozinha não é prova de casualidade porque outros fatores podem estar envolvidos, como perturbações climáticas, os autores analisaram outras referências, como estudos de caso individuais que destacam as ligações entre epidemias e mudanças no uso da terra. Eles alertam, no entanto, que como outros diversos fatores também influenciam o surgimento de novas epidemias, mais investigações seguem sendo necessárias.

A pesquisa aponta ainda que até mesmo o plantio de árvores pode aumentar os riscos à saúde das populações humanas locais se contemplar um restrito número de espécies, como costuma ser o caso em florestas comerciais. Os autores explicam que isso ocorre porque as doenças são filtradas e bloqueadas por uma variedade de predadores e habitats em uma floresta saudável e biodiversa. Quando esse cenário é substituído por uma plantação de dendê, campos de soja ou blocos de eucalipto, por exemplo, muitas espécies mais específicas morrem, deixando espaço para outras mais generalistas, como ratos e mosquitos, se desenvolverem e espalharem patógenos em habitats humanos e não humanos. O resultado é uma perda de regulação natural de algumas doenças.

O estudo também acrescenta evidências de que os vírus são mais propensos a saltar para humanos ou animais se eles viverem em ou perto de ecossistemas afetados, como florestas recentemente desmatadas ou pântanos drenados para terras agrícolas, projetos de mineração ou projetos residenciais. Quando esses locais são próximos a áreas urbanas, o cenário é mais preocupante.

“Devemos levar em conta os custos de saúde pública ao considerar novas plantações ou minas. Os riscos são primeiro para a população local, mas depois para todo o mundo, porque vimos com a Covid-19 como as doenças podem se espalhar rapidamente”, alerta Morand.

Os autores do estudo estão agora trabalhando em uma pesquisa mais detalhada que usará a análise de satélite da cobertura florestal para examinar as ligações com novos surtos de doenças. Com mais informações, eles acreditam que pode ser possível prever futuros surtos e trabalhar com as comunidades locais para construir paisagens ecologicamente diversas e economicamente produtivas que reduzam os riscos.

Da Redação TN com informações do Observatório do Clima.

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