10/01/2017 - Sérgio Maggio - Portal Metrópoles
Simone Reis tira UnB da zona de
conforto com teatro inquieto
Havia uma curiosidade de parte
dos espectadores em conhecer o trabalho de Bruna, ainda estudante de artes
cênicas da Universidade de Brasília (UnB). Semanas antes, ela tinha sido
indicada à categoria de atriz do Prêmio Sesc Candango pelo espetáculo “Entre
Quartos”, do coletivo Tripé. Em setembro, venceu o prêmio de melhor atriz no
Festival de Teatro Universitário (Festu), no Rio de Janeiro, pela performance
em “Stanislove-me”.
Bruna Martini tem 21 anos e ainda
transita pelas salas de aulas do Instituto de Artes da UnB, onde estuda o
oitavo semestre de artes cênicas. Está ali para descobrir caminhos de pesquisa
do ofício de interpretação.
Sinto que entrei na UnB na
intenção de agregar linguagens, muito mais do quer obter um diploma. Aliás,
tenho dificuldades com a academia no sentindo burocrático"
Com talento e traquejo para se
destacar no mercado, Bruna tem consciência de quanto a vivência na UnB
abriu-lhe as portas. Aprendeu e trocou com profissionais de qualidade artística
e técnica incontestáveis, a exemplo de Hugo Rodas, Felícia Johansson, Giselle
Rodrigues e Simone Reis. Esta última é a responsável por um encontro de vida.
Antes de “Stanisloves-me” vi
Simone Reis em “O Espelho” e “A Boba” e tinha a intuição que ela poderia ser o
auge que Brasília poderia me oferecer. Ela trabalha num nível intuitivo,
provoca o intérprete a se descobrir. É preciso responder a pergunta ‘quem é
você?’ para trabalhar com ela. Dói, mas é bom. Simone é uma bruxa "
O trabalho com Simone Reis é uma
deliciosa autocrítica ao exercício de ser um intérprete virtuose, aquele capaz
de fascinar as plateias com as peripécias da personagem. Bruna ri de si mesma
em cena, brinca com as teorias, os mestres e os métodos, numa atuação intensa,
que exige uma presença cênica capaz de interagir com o ruído de uma mensagem de
aplicativo. Vai do improviso à comédia rasgada, numa gangorra cheia de
sutilezas.
“Não imaginava que ganharia e até
tinha comprado a passagem de volta para um dia antes da cerimônia. Recebi o
prêmio de Lilia Cabral que é uma referência artística, que também começou na
comédia. Acho que ganhei porque tive coragem de ir”, explica.
Coragem é a maior qualidade de
Bruna Martini. Foi movida a esse sentimento que ela aceitou o convite de atriz
substituta em “Entre Quartos”, faltando poucas semanas para a apresentação do
Prêmio Sesc. Bruna estava entre amigos e foi recebida com afeto, sentimento que
os une. Pediu uma quantidade de ensaios para se sentir segura e foi atendida.
Sabia da difícil tarefa que é entrar num espetáculo pronto sem ter vivenciado o
processo de criação. Tinha que respeitar o que foi desenvolvido, mas precisava
pôr suas subjetividades de artista em cena.
Fiquei com medo de
desestabilizar, mas o grupo é muito coeso, sabe o que quer. Entrei, então,
consciente desses riscos e o resultado foi significativo para todos nós"
E 2016, o ano difícil
coletivamente para o Brasil, sorriu para Bruna Martini, que ainda rodou pelas
cidades do Distrito Federal, com a montagem universitária “Decadenta”, sobre o
universo de Rita Lee.
Não tenho palavras para definir
tudo isso que ocorreu em 2016. Uma sensação incrível para minha jovem carreira,
se é que posso chama-la ainda de carreira"