Fotos: Disponibilizadas por Kathlen Amado - Assessoria de Comunicação
O Blog Companhia das Entrevistas tem a honra de contar com a
participação de Priscilla Brito, cientista política e feminista do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) numa entrevista que informa sobre a Articulação de Mulheres
Brasileiras reunidas para análise das Eleições 2012 e debates políticos. A reunião aconteceu em novembro
2012, no CCB Centro Cultural de Brasília-DF. Boa leitura:
Blog - As
mulheres ocuparam, pela primeira vez no Brasil, mais de 30% das candidaturas a
um cargo eletivo, e podemos considerar este fato uma evolução?
Priscilla Brito - Nós não diríamos “evolução”, mas foi mais um passo em prol
de uma maior igualdade de gênero no nosso país. As cotas foram um grande
conquista para o movimento de mulheres, mas infelizmente elas ainda não
garantiram um aumento no número de mulheres eleitas na mesma proporção. Para
uma mudança mais profunda, vai ser preciso mudar o sistema político.
Blog - No início dos debates em torno da criação de um mecanismo
de discriminação positiva para mulheres nas eleições brasileiras, no começo da
década de 1990, os líderes partidários desenvolveram o mantra “mulheres não se
interessam por política” para justificar seu desacordo. Isso já foi superado totalmente?
Priscilla Brito - Não. As estruturas partidárias ainda são muito sexistas e
tendem a manter elites políticas por muito tempo, o que dificulta a entrada de
mulheres. Além disso, apesar do incentivo à candidatura de mulheres para
cumprir a cota, muitas vezes os partidos não oferecem estrutura para que as
mulheres façam boas campanhas. Num sistema eleitoral como o nosso, de lista aberta e
financiamento privado, as campanhas são muito caras e dependem do apoio de
empresários e grande apoio dentro do partido. É mais difícil para as mulheres
superarem essas barreiras por causa da nossa cultura patriarcal mesmo.
Blog - A obrigatoriedade das cotas eleitorais pode explicar o
avanço em termos de candidaturas de mulheres ao Legislativo Municipal?
Priscilla Brito - Com certeza, os partidos acabam tendo que incentivar a
candidatura das mulheres, para pelo menos cumprir a cota. O problema é que,
infelizmente, muitas acabam como “laranjas” e sequer fazer campanha. Entram na
disputa somente para apoiar outros candidatos, a maioria homens.
Blog - No caso de candidaturas a prefeituras, onde o sistema de
cotas eleitorais não é obrigatório, as candidaturas foram menores?
Priscilla Brito - O número de candidatas às prefeituras aumentou. Em 2008 as
mulheres representavam 11,12% do total de candidaturas, e em 2012 a porcentagem
subiu para 12,45%.Também aumentou o número de prefeitas eleitas. No primeiro
turno, o número de eleitas já tinha alcançado 11,37%, um recorde. Só para
lembrar, nas eleições de 1996, as primeiras após a lei eleitoral que definiu as
cotas, as mulheres ganharam apenas 3,4% das prefeituras. Para nós, no entanto, ainda há muito o que avançar. O número
de candidatas não chega a 30%, que é o mínimo estabelecido para as candidaturas
proporcionais. Ainda falta muito para uma situação de igualdade na política.
Blog - houve um crescimento absoluto de candidaturas femininas?
Priscilla Brito - Sim. Mas o número de candidatas aumentou em maior proporção
que o número de eleitas.
Blog - Como nossos leitores e leitoras de nosso Blog Companhia
das Entrevistas podem participar da campanha “Quanto Vale seu Voto”?
Priscilla Brito - A campanha continuará no ar até 2014. Então os leitores e
leitoras podem acessar o site http://quantovaleseuvoto.org.br/ , acessar os
materiais e ajudar a difundi-los. Os vídeos da campanha estão disponíveis para
download e tem também um Guia Feminista para as eleições de 2012, que pode
incentivar mulheres que estejam pensando em se candidatar nas próximas eleições
a começar a construir sua candidatura. Para quem tem contato ou faz parte de
alguma rádio comunitária, os spots de rádio também estão disponíveis para
download.
Em breve colocaremos novos materiais na rede.
Blog - Estiveram presentes nos debates da AMB mulheres do Brasil
inteiro? vereadoras, candidatas?
Priscilla Brito - Sim, a Articulação de Mulheres Brasileiras se organiza em
quase todos os estados brasileiros através de fóruns estaduais. Várias
integrantes se candidataram, principalmente às câmaras municipais, na tentativa
de construir candidaturas mais feministas. No entanto, nenhuma chegou a ser
eleita.