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sábado, 29 de setembro de 2012

182. José Leme Galvão Junior / Superintendente do IPHAN no Distrito Federal / Cinco acessos na 109/209 e 105/205 Norte e na 105/205, 109/209 e 113/213 Sul



Cinco acessos seriam construídos em Brasília-DF pelo Governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, na 109/209 e 105/205 Norte e na 105/205, 109/209 e 113/213 Sul, no modelo da quadra 113/213 Norte. As obras foram iniciadas ao final de julho de 2012 e, segundo as projeções do Governo do Distrito Federal (GDF), seriam finalizadas em novembro deste ano. Porém, o  Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) suspendeu a autorização no dia 25 de setembro de 2012, e sobre este assunto, conversamos com José Leme Galvão Junior, Superintendente do IPHAN no Distrito Federal. Boa leitura:

Blog: A superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) suspendeu, nesta terça-feira (25), a autorização do Governo do Distrito Federal para realizar as obras das “agulhinhas”, que dariam acesso ao Eixo Rodoviário (Eixão) pelos Eixinhos Norte e Sul?

José Leme Galvão: O IPHAN embargou as obras e cancelou a autorização anterior. Além da insuficiência de projeto e estudos que as justifiquem, entendemos que tais intervenções comprometem a característica rodoviária do Eixão, retirando a hierarquia do sistema viário longitudinal do Plano Piloto, entre outros problemas de acessibilidade e segurança, além da redução da área verde.

Blog: A Secretaria de Obras do DF, responsável pela execução do serviço, não apresentou um estudo de aferição de volume de tráfego em horários de pico para justificar a realização das obras?

José Leme Galvão: Apresentou após a data do embargo a contagem de veículos em parte das “tesourinhas”. Não é um estudo de viabilidade nem avalia os impactos positivos e negativos ao patrimônio cultural.

Blog: O instituto também discorda do GDF quanto às melhorias que as “agulhinhas” promoverão no trânsito das Asas Norte e Sul?

José Leme Galvão: Evidentemente sim.

Blog: Podemos afirmar que, os acessos criarão mais congestionamentos, especialmente no Eixão Sul, e representarão risco de vida aos motoristas devido ao alto fluxo de carros que tentarão entrar na via?

José Leme Galvão: Em termos semelhantes aos informados ao GDF: Os riscos são consequência de vários fatores combinados. O certo é que o incremento de veículos e a eliminação da hierarquia podem problematizar ainda mais o controle do tráfego. Entretanto, como já enunciado acima, entendemos que a justificativa apresentada para a intervenção é equivocada e contrária aos preceitos fundamentais do tombamento, face aos valores culturais (histórico e paisagístico) em questão. Lembremo-nos que aquelas existentes no final da Asa Norte foram feitas como desvio para permitir a construção das passagens sob o Eixão, até então inexistentes entre as quadras 113/114 e 213/214. Isso antes do tombamento. Desde aquela época a construção das agulhinhas foi sistematicamente desautorizada pelo Iphan, com base em estudos adequados das propostas que apontaram impactos negativos à preservação do Patrimônio Cultural acautelado e a ineficácia da pretendida solução, seja de tráfego, seja de acesso, seja de mobilidade urbana.
O sistema do Eixo Rodoviário é eficiente, não o é a travessia das asas, em razão do número acachapante de veículos e a ineficiência do transporte público. Essa transversalidade fica estrangulada nos comércios W-1 e L-1 e as agulhinhas resultariam em maior e mais rápido congestionamento nas vias transversais e no próprio Eixo Rodoviário, isto é, não solucionariam nada. Pelo contrário, transformariam o Eixão em avenida comum, com a faixa da direita nmuito comprometida e apenas duas faixas de rolamento desimpedido.
Por isso podemos prever graves conflitos de trânsito nas faixas à direita, pois as faixas adicionais de aceleração e desaceleração, para acesso direto a cada agulhinha, não comportam mais que 6 ou 7 carros em velocidade reduzida, quanto mais a 60 ou 80 quilômetros por hora. As retenções e acidentes gerados poderão ser sérios e demandarão – além das vidas em risco – inúmeros processos judiciais, inclusive contra o IPHAN.
Além disso, é necessário analisar as hipóteses de intervenção em escala urbana com base em estudos de impactos ao patrimônio cultural, considerando o contexto dos bens culturais atingidos, a fase do empreendimento em que deverão ser implementadas, o caráter e as condições de medidas preventivas ou corretivas e sua eficácia, e, além disso, a definição de responsabilidades do executor. Os estudos devem ter prognósticos, cotejando objetivos, propostas técnicas, viabilidade e, em relação ao patrimônio cultural em questão, apresentar os cenários de curto, médio e longo prazos. Devem considerar também eventuais problemas de execução e as cautelas consequentes, para assegurar mínimo dano ao patrimônio, tanto quanto prejuízos para o desenvolvimento e a implementação do empreendimento.

Por fim é preciso reiterar que o Eixo Rodoviário é uma das marcas do Plano Piloto de Brasília. Misto de avenida e rodovia, resulta de uma solução urbanística perfeita para a cidade-parque, com baixa densidade e setores definidos. A estrutura axial alongada como um tronco e suas ramificações, reinterpretando a cidade jardim e os paradigmas do modernismo, abrigou em seus interstícios as quadras e superquadras, protegidas do tráfego alheio às suas funções e vizinhança. Essas qualidades são valores que podem ser perdidos ou danificados