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sábado, 14 de julho de 2012

158. Jorge Viana / Diretor Administrativo e Vice-Presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal / Sindate-DF / Projeto de Lei 2295/2000



Sindicalismo de conscientização, Projeto de Lei 2295/2000, estes são alguns dos assuntos desta entrevista com o nosso convidado especial,  Jorge Viana,  Diretor Administrativo e Vice-Presidente do Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal (Sindate-DF) que nos informa sobre os direitos que os trabalhadores da área de saúde aguardam. Boa leitura:

Blog: Recentemente houve, ou melhor, quase aconteceu uma votação, em relação à carga horária de 30 horas, na verdade de 36 horas para transforma em 30 horas, e pelas informações que apuramos, existia quórum suficiente, mas por que não aconteceu esta votação?

Jorge Viana: Na verdade, hoje a enfermagem no Brasil, seja auxiliar técnico e enfermeiro, na verdade as três categorias que compõem a enfermagem, fazem entre 40 e 44 horas semanais, isto na iniciativa privada, em alguns órgãos públicos, em alguns Estados da Federação, esta carga horária já foi diminuída, tem Estados que fazem 30 horas, em Brasília, por exemplo, o enfermeiro faz 20 horas semanais, o técnico em enfermagem faz 24 horas semanais, e o auxiliar de enfermagem faz 30 horas semanais, no Rio de Janeiro, recentemente foi sancionada uma Lei em que a categoria enfermagem, no município do Rio de Janeiro, vai fazer agora 30 horas semanais. Existem vários Estados que adotam a carga horária de 30 horas semanais. O que aconteceu nesta votação do dia 27 de junho de 2012, que inclusive está registrada na matéria que fiz no informativo “A Voz da Enfermagem”, criticando o Governo do PT, porque após 12 anos em tramitação na Casa, esse Projeto de Lei 2295/2000 entrou em votação, entrou na pauta de votação, acontece que um Projeto de Lei para entrar em pauta de votação, ou seja, para ser votada, para ser sancionado, ele passa pelas comissões,  todo mundo sabe que tem que passar pelas comissões, entre elas, a comissão de finanças, também a de constitucionalidade, e tudo mais, ela passou por todas as comissões e foi aprovada por unanimidade, ora, se nós temos aprovação da comissão de finanças, e as pessoas que estão na comissão são responsáveis para saber o impacto que isso vai gerar para o Brasil, seja na esfera pública ou privada, se deram a aprovação, então estava tudo ok para ser votado, e nós tínhamos a maioria dos deputados, inclusive a favor da Lei, e temos até hoje, pelo menos declarado, temos a maioria dos deputados, no último dia 27, o que aconteceu foi que na verdade foi uma manobra do governo, liderada pelo deputado Arlindo Chinaglia do PT-SP.

Blog: Líder do Governo?

Jorge Viana: Correto, líder do governo, eles tiveram uma reunião faltando poucos minutos, porque no mesmo dia seria votado dois temas polêmicos, que era os Royalties e estas 30 horas, e outras votações, que não eram tão importantes, mas esses dois eram os mais polêmicos, não sei o motivo pelo qual colocaram os dois projetos mais polêmicos para serem votados no mesmo dia, não sei qual era a intenção, enfim, os dois acabarão não sendo votados, eles reuniram antes um pouco com o Ministro da Saúde Alexandre Padilha, que o coordenador de campanha da Dilma, e que tinham prometido, inclusive, em carta, a Dilma prometeu que se ela fosse eleita, reduziria a carga horária, estava tudo certo, o Padilha juntou com o líder do governo e alguns petistas da bancada e decidiu em tirar da pauta, a coisa foi assim, coisa de cinema, o Chinaglia chegou lá na Câmara, começou a conversar com um por um, daí ele foi no microfone e falou para o Presidente da Câmara, o Marco Maia, sem sustentação, acredito, sem propriedade do que disse, mas disse que teriam que melhorar essa ideia das 30 horas, teria que avaliar melhor o impacto, ora, como é que um cara, líder do governo chega na altura do campeonato, faltando pouquíssimo tempo para ser aprovada uma Lei, e fala “tem que ser melhorada, que tem que estudar melhor o impacto”. Não já passou pelas comissões? Por que as comissões então não pediram vistas? Por que as comissões não fizeram esse estudo? Quer dizer, deixaram para o final? Não. Daí, o presidente da Câmara, também do PT-RS, Deputado Marco Maia, pediu para, como estava polêmico, e bastante deputados começavam a falar que não, que era aquela que seria a pauta, e que tinha que seguir a pauta, porque já estava na pauta, já estava na ordem do dia e tudo mais, então o presidente ficou meio que encurralado, de um lado o líder do governo e do outro lado os deputados. E o que aconteceu? Ele falou assim, “então vamos marcar esta sessão para às 15h”, do mesmo dia (27) e isto já era em torno das 13h, e ele disse, “vamos parar para o almoço e às 15h  a gente vota e primeira votação será ela”, só que ele sabe e todo mundo sabe, que a Câmara, ela só funciona de manhã, e que na quinta e na sexta haveria as convenções coletivas em todo o Brasil, e os deputados obviamente, eles iriam embora, então não daria quórum, já pela manhã tinha quórum, tinha mais de 400 deputados presentes e realmente estavam presentes, quando ele jogou para a tarde, ele já sabia que não ter quórum, só que, quando chegou a tarde, nem o Marco Maia, nem o Arlindo Chinaglia estavam  na Câmara, a Câmara foi presidida pela deputada, e lógico, ela estava querendo ajudar, ela começou a segurar a plenária, para os deputados chegarem, e eles foram chegando, daí a gente começou a andar pelos gabinetes chamando os deputados, “deputados, vamos votar! Vamos votar! E eles começaram a ir para a plenária, e começaram a “bater o ponto”, digamos assim, até que deu quórum novamente, e quando deu quórum novamente, chamaram imediatamente o Marco Maia para presidir a Mesa novamente, e me disseram que o Marco Maia já estava no aeroporto para ir embora, porque sabia que não iria dar quórum, foi embora porque pensou "não vai dar nada isso aqui", só que quando souberam que deu quórum no painel, ele voltou, quando ele voltou, já tirou a deputada da Mesa, que estava presidindo, e aí pediu a contagem de votos, para ver se realmente tinha aquele quórum lá, e realmente não tinha, então quem são os culpados? Cara, pra gente o PT é o principal culpado, porque articulou.

Blog: O que o senhor sugere, uma melhor conscientização, dos partidos, principalmente do partido dos trabalhadores, que representa entre aspas os trabalhadores, o que está faltando é esclarecimento, é o retorno da essência que é a defesa do trabalhador por este partido?

Jorge Viana: Nós temos duas linhas no grupo de enfermagem hoje, a linha que acredita que a gente pode continuar negociando, porque a questão não é muito partidária, porque nós temos 12 anos, e na época do FHC, ele negou, o Lula negou, a Dilma está negando, na verdade esta história das 30 horas tem mais de 40 anos, que isto está em pauta, só que efetivamente faz 12 anis que está na Câmara, tramitando, se a gente for falar partido, não é bem o partido, mas na situação é o PT, então o PT traiu os trabalhadores, e esta linha do grupo de enfermagem acredita que realmente nós temos que avançar no sentido de fazer política nos Estados e tudo, e tem outra linha que fala que não, que nós temos é que mostrar para a população quem são os traidores e que para em 2010, agora para as eleições para prefeitos, a gente não vote nestes camaradas, ou seja, PT não vai ser eleito se continuar traindo a gente.

Blog: O impostômetro, ele direcionou que já houve uma arrecadação de impostos maior do que o mesmo período do ano passado, seria então a solução investir mais o imposto arrecadado nestes profissionais tão importantes, que são vocês, os enfermeiros, porque este argumento de dizer que vai aumentar o custo, por que vai ter que contratar mais enfermeiros, e não tem dinheiro, e para onde vai os nossos impostos?

Jorge Viana: O nosso maior problema é de forma assim, nós temos dois impactos, um do governo, porque o governo vai pagar mais os servidores, e temos o impacto da iniciativa privada, nós temos um estudo, que mostra que, do dinheiro que é destinado a pagamento dos servidores, isso no geral, apenas 5% é dispensado à enfermagem, 5% deste dinheiro que é destinado para os trabalhadores da saúde, 5%  é da enfermagem, isso no público, já na iniciativa privada, rapaz, é uma coisa assim de dar nojo, porque você ver que a maioria dos hospitais que são particulares, eles pagam um salário miserável para o trabalhador, e a cada ano eles tendo  tem aumentado, e é óbvio, a arrecadação aumenta, tecnicamente nós deveríamos pegar este aumento e distribuir para os servidores públicos, só que não, nós temos também que construir mais escolas, mais hospitais, e isso acaba que vai gastando este aumento, e essa porcentagem que teve deste aumento, nós vamos investir em outra coisa, neste aspecto eu concordo com o governo.

Blog: É como se fosse pulverizando?

Jorge Viana: É, não tem como no caso termos 13% de aumento no fundo constitucional, então quero 13% de aumento, não tem como, é óbvio, mas o particular tem, porque se você pegar o lucro do particular de um ano para o outro, você vai ver que eles estão tendo muito mais do que 15% de lucro, e no entanto eles não repassam para o trabalhador, e hoje dizem que é muito mais fácil a iniciativa privada aumentar o salário do trabalhador do que a iniciativa pública, porque o público eles pagam com os impostos, e o cara para nascer e gerar imposto, é pelo menos 20 anos, e não tem eu ter imposto em 1 ano e no outro ano dobrar a arrecadação, mas o particular tem, como ganhar uma quantia hoje e no ano que vem dobrar este lucro, no entanto o salário do trabalhador não dobra.

Blog: Para concluir a nossa entrevista com um recado para os enfermeiros, que ainda não tiveram tempo de se filiar ao sindicato, qual a importância de ser filiado, para ser representado nestas lutas, nestas conquistas?

Jorge Viana: O recado que dou para os nossos colegas, da enfermagem, seja enfermeiro graduado, seja enfermagem de nível médio, é que acredite nas instituições que os representam, principalmente as novas instituições, porque, infelizmente, a gente acredita que a palavra sindicato perdeu força ao longo dos anos porque desvirtuaram o nosso conceito, os nossos princípios, por exemplo, hoje nós temos sindicatos que oferecem benefícios, oferecem vantagens para os associados, e eu acho que o sindicato não é bem por aí, embora a gente tenha que ajudá-los, na questão da vida social, na questão de trabalho e tal, nós temos que seguir o preceito básico do sindicalismo, que é defender o trabalhador, que é ir em busca de melhorias, tanto na vida particular, quanto na vida profissional, e o Sindate-DF é um sindicato relativamente novo e estamos tentando resgatar essa valorização ao sindicalismo, porque nós estamos fazendo um novo tipo de sindicalismo, de conscientização, difícil, mas a gente sabe que podemos conseguir.