Larissa Warnavin* e Nicole Witt**
Na última semana, cerca de mil fósseis do período Cretáceo (65 a 145 milhões de anos atrás) foram devolvidos ao Brasil por autoridades do governo francês. O material foi contrabandeado do Brasil em 2013 e após acordo entre os países, seguirá para o Geopark Araripe (CE). Isso ocorre pois os fósseis são um patrimônio nacional e não podem ser comercializados, mesmo que tenham sido descobertos em propriedade particular. A descoberta de novos fósseis possibilita o avanço do conhecimento sobre o passado da Terra e traz avanços para ciência.
Coincidência ou não, no início deste mês, durante uma aula de paleontologia, um de nossos alunos relatou que em 2020 foi encontrado um fóssil de mesossauro às margens do Rio Negro em Três Barras (SC), durante o período de estiagem que afetou a região Sul e Sudeste do país. O leito do rio ficou exposto devido às condições de seca severa, possibilitando o encontro do fóssil. Dias depois da aula, vimos a notícia de que o museu de Três Barras recebeu o fóssil de pesquisadores da Universidade do Contestado, após 2 anos de investigações científicas e regularizações.
Longe de ser uma coincidência, os achados de fósseis de mesossauros no Brasil e na África possibilitaram a comprovação da teoria da Deriva Continental. Mais de um século atrás, o geólogo Alfred Wegener teorizou sobre a possibilidade de os continentes americano e africano terem sido um mesmo supercontinente há milhões de anos. Essa constatação se deu ao observar o contorno desses continentes nos mapas, os quais se encaixavam como um quebra cabeça.
A partir disso, Wegener concluiu que os continentes foram separados pela força dos movimentos geotectônicos (do interior da Terra). Como não havia tecnologia suficiente para comprovar essa teoria à época, ela foi refutada pela comunidade científica e só veio a ser validada após os avanços da tecnologia de radar e pelas descobertas paleontológicas, como do mesossauros, que possibilitaram datar os períodos do passado terrestre em que esses continentes estiveram conectados.
A espécie de mesossauros (Mesosaurus tenuidens), encontrada nas bacias do Paraná (Brasil, Paraguai e Uruguai) e do Karoo, no sul do continente africano (África do Sul e Namíbia). Com anatomia semelhante aos lagartos atuais, são considerados répteis que viviam em ambiente de águas rasas, possivelmente salobras. Esses répteis amniotas, além de trazerem informações sobre a disposição dos continentes, ajudam a contar a história de como era o clima e as condições ambientais da época. Inclusive, o fato de não encontrarmos os fósseis desses animais nos estratos superiores ao final do Período Permiano (entre 290 e 248 milhões de anos atrás) é um indício de que foram extintos no que se considera o maior evento de extinção em massa que temos registros. Ainda, semanas atrás, chegou-nos a notícia de que um fragmento de asteroide que atingiu a Terra causando a extinção dos dinossauros foi encontrado nos EUA. Embora, o nome mesossauro seja parecido com dinossauro, esses répteis viveram em períodos distintos.
As coincidências científicas sobre o passado terrestre, diferente dos algoritmos da tecnologia da informação, ocorrem conforme encontramos registros paleontológicos e geológicos, os quais nos permitem acesso a dados que corroboram ou refutam as teorias científicas. O avanço da tecnologia de data science, geotecnologias e modelagem ambiental contribuem para que possamos revelar cenários do passado, presente e realizar projeções futuras. Seguimos observando o planeta e aprendendo a cada descoberta.
*Larissa Warnavin é geógrafa e Doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
**Nicole Witt é
bióloga e Especialista em Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Docente da
Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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