Óculos
especiais identificam sintomas do greening em folhas de citros
Foto: Tatiane Liberato
Tatiane Liberato - Agência Embrapa de Notícias
Um par
de óculos com lentes revestidas por um filtro especial é o mais novo invento
para detectar os sintomas do huanglongbing (HLB), também conhecido como
greening, durante a inspeção visual em pomares de citros. A novidade, que já
está disponível no mercado, permite ao usuário enxergar o principal traço da
doença, conhecido como mosqueamento das folhas ou amarelecimento, porque
intensifica o contraste entre as cores verde e amarela, características da
praga.
Os
óculos para auxiliar a inspeção visual do greening na citricultura facilitam o
trabalho dos inspetores, reduzem a taxa de erros na identificação da doença e
trazem proteção visual ao usuário. Os idealizadores da invenção acreditam que,
além do Brasil, a tecnologia poderá ser usada por inspetores em outros países
produtores de citros, como Estados Unidos, China, México, Espanha e Índia.
Embora
muitas técnicas estejam sendo desenvolvidas para melhorar a identificação de
plantas infectadas, até o momento não há conhecimento de nenhum dispositivo
para aplicação em inspeção visual do greening em campo.
Pelo
método tradicional, o greening, pior doença da citricultura dos últimos tempos,
pode ser identificado por meio de inspeção visual por profissionais treinados,
mas com altas taxas de falhas. Acredita-se que metade das plantas sintomáticas
seja mantida em campo por erros na inspeção, o que permite a proliferação da
doença entre as árvores saudáveis.
Desenvolvidos
pela Embrapa Instrumentação e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os
Óculos de Inspeção de Greening na Citricultura serão apresentados na 24ª Feira
Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), que ocorre de 1º a 5
de maio, em Ribeirão Preto (SP).
A
tecnologia, já patenteada, está disponível na Fhocus Optical Solutions, empresa
licenciada para fabricação e comercialização dos óculos, sediada em São Carlos
(SP) e com filial na capital paulista, e pode ser adquirido mediante cadastro
prévio por telefone ou na página da empresa.
De
acordo com o diretor de Marketing da Fhocus, Clédio Romero Rodriguez, o custo
unitário dos óculos está estimado em torno de R$ 200,00, mas deve ser reduzido
em função da quantidade adquirida. Acima de 100 peças, a empresa calcula que o
valor possa cair para, aproximadamente, R$ 170,00 a unidade. “Nossa expectativa
de mercado é bem otimista e temos capacidade produtiva para absorver
tranquilamente 500 peças por mês”, afirma.
Rodrigues
lembra que a tecnologia está sendo produzida de acordo com as rigorosas
exigências dos padrões do American National Standards Institute (ANSI), e
acredita que o produto deve se consolidar como uma ferramenta inovadora de
trabalho para auxiliar na diminuição da contaminação dos laranjais.
Teoria
das Cores
O
trabalho é resultado da dissertação de mestrado do estudante Luiz Otávio dos
Santos Arantes, conduzida no Departamento de Engenharia de Produção da UFSCar,
concluída em 2013, com o apoio do professor Nilton Luiz Menegon e da
pesquisadora da Embrapa Instrumentação, Débora Milori. Arantes recebeu suporte
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com recursos
de um pouco mais de R$ 28 mil.
Débora
conta que a ideia inicial era desenvolver sistemas para proteção ultravioleta,
a pedido de uma indústria brasileira de suco de laranja. Entretanto, após discussões,
surgiu a proposta de avaliar a possibilidade de inserir um filtro adicional nos
óculos capaz de ressaltar os sintomas do greening e, assim, facilitar a
inspeção visual.
O
estudo, então, seguiu em frente, baseando-se na chamada Teoria de Cores, segundo
a qual, para absorver uma determinada coloração, um corpo deve refletir a cor
complementar a ela. A pesquisa consumiu cerca de três anos entre o estudo dos
filtros, ensaios em campo e laboratório até chegar ao mercado.
A
pesquisadora explica que o filtro de luz atenua majoritariamente a cor verde,
levando a percepção de contraste pelo olho humano a ser ainda maior, fator
fisiológico que ocorre devido à hipersensibilidade da retina humana à cor
verde. Assim, é possível que sejam identificados tons periféricos que não
seriam percebidos normalmente. Para o inspetor de campo, esse fator significa
que pequenas alterações do verde para o amarelo, em virtude da doença, sejam
identificadas mais facilmente.
Se a
folha está saudável, ou seja, está no tom verde, o filtro mitiga a transmissão
dessa cor, visualizando-a com cor mais escura. Já se a folha apresenta alguma
alteração na coloração, o dispositivo permite que esta alteração seja
transmitida através do filtro de luz, mostrando-a de forma mais clara.
Mas a
pesquisadora Débora Milori comenta que, mesmo com o uso dos óculos de inspeção
visual de greening na citricultura, a detecção adequada dos sintomas vai
depender da experiência dos inspetores, porque o mosqueamento das folhas pode
ocorrer por diversos outros fatores, como déficit de zinco ou um galho quebrado
impedindo a passagem da seiva.
Benefícios
da tecnologia
Milori
informa vantagem adicional da invenção: o dispositivo bloqueia os raios
ultravioleta, proporcionando ao usuário proteção contra a luz do sol e conforto
visual na execução da atividade.
A
tecnologia ainda é bastante flexível e pode ser aplicada em diferentes
materiais e formas, podendo ser utilizada até mesmo em conjunto com outros
equipamentos de proteção individual (EPIs) como capacetes, abafadores,
protetores auriculares e máscaras de proteção respiratória. O diretor de
Marketing da Fhocus conta que, caso o usuário necessite de lentes corretivas,
os óculos detectores de greening podem ser adaptados de acordo com o grau do
usuário, seguindo a prescrição do oftalmologista.
Em sua
pesquisa, Luiz Otávio dos Santos Arantes registrou que os trabalhadores
declararam que o óculos promove conforto visual e diminui o esforço de
identificação da doença, além do aumento da quantidade de plantas detectadas.
"Todos gostaram e pediram para continuar usando o equipamento por
facilitar muito o trabalho", diz o ex-mestrando que acredita que os óculos
ainda pode reduzir afastamentos.
O
professor da UFSCar, Nilton Menegon, diz que a invenção foi inspirada em
aplicações similares para identifcação de doenças em plantações e até mesmo
para uso militar. Ele conta que o trabalho se baseou nessas tecnologias para
desenvolver um filtro específico para greening. "Nosso trabalho foi
identificar uma frequência que deixasse passar alguns comprimentos de onda e
outros, não. A diferença entre a luz que chega aos óculos e aquela que passa
por eles é o que permite a melhoria da capacidade perceptiva do operador",
explica.
Greening
O
greening é uma doença originária da China e surgiu há mais de cem anos. É causada por quatro bactérias do tipo
Candidatus − a Liberibacter spp., Liberibacter africanus, Liberibacter asiaticus e Liberibacter americanos.
No
Brasil, a doença foi identificada pela primeira vez em março de 2004, no
Município de Araraquara (SP), mas atualmente está presente em todas as regiões
citrícolas do Estado de São Paulo e em pomares de Minas Gerais e Paraná.
De
acordo com relatório da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do estado, São
Paulo erradicou 5,7 milhões de plantas com greening só no primeiro semestre de
2014.
Os
sintomas aparecem nas folhas da planta e são caracterizados nos ramos, que
perdem parte da sua coloração verde, apresentando-se parcialmente amarelas e
verdes, sem uma delimitação clara entre essas duas cores.
Esse
sintoma, denominado “mosqueado”, é o mais característico de plantas com
greening, tendo sido observado em todos os locais nos quais a doença foi
descrita até hoje.
As
folhas das plantas podem brotar com um tamanho reduzido e apresentando clorose
(amarelecimento), assemelhando-se a um sintoma de deficiência de zinco ou de
ferro. A clorose ocasionada pelo greening, no entanto, é distribuída de forma
assimétrica na folha. Os frutos sintomáticos geralmente são pequenos e deformados,
podendo apresentar casca total ou parcialmente verde na porção basal, além de
espessamento do albedo − a parte branca da casca − e sementes abortadas.
De
acordo com normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), o produtor deve inspecionar e eliminar plantas doentes. O citricultor
que não erradicar as plantas doentes pode ser multado com até 3.500 UFESPs
(Unidade Fiscal do Estado de São Paulo). Em 2013, o valor da UFESP era de R$
19,37.
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Joana
Silva (MTb 19.554/SP)
Embrapa
Instrumentação
instrumentacao.imprensa@embrapa.br
Telefone: (16) 2107 2901
Tatiane
Furukawa Liberato (MTb 60.276/SP)
Agencia
de Inovação da UFSCar
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Telefone: (16)3351-9085
Mais
informações sobre o tema
Serviço
de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/
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