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quarta-feira, 21 de março de 2018

Presença de micropartículas de plástico na água é pesquisada pela OMS

OMS irá investigar se água com plástico é prejudicial à saúde

Fonte: BBC
Organização Mundial de Saúde (OMS)vai iniciar uma análise sobre os potenciais riscos à saúde associados à presença de plástico na água que bebemos. A medida foi anunciada após um estudo com 250 garrafas de água de 11 marcas micropartículas de plástico em 93% das amostras analisadas.
Segundo Bruce Gordon, coordenador do trabalho global da OMS em água e saneamento, em entrevista à rede britânica BBC, a questão mais importante é se o fato de ingerir partículas de plástico ao longo da vida pode ter algum efeito.

Microplástico na água

Um estudo publicado na quarta-feira revelou que as principais marcas de água em garrafa vendidas no mundo estão contaminadas com micropartículas de plástico. O teste, realizado pela Universidade Estadual de Nova York, examinou garrafas compradas em nove países diferentes, de cinco continentes, e descobriu uma média de dez partículas de plástico por litro, cada uma maior do que a espessura de um fio de cabelo.
“Os números não são catastróficos, mas é algo preocupante. Encontramos plástico em todas as garrafas e marcas. O teste mostra que o plástico tornou-se um material tão presente na nossa sociedade que agora está até passando para a água”, disse Sherri Mason, professora de química da Universidade de Nova York e responsável pela análise, à BBC.
No ano passado, Sherri encontrou partículas de plástico em amostras de água da torneira. Outros estudos também detectaram essas partículas em frutos do mar, cerveja, sal marinho e até no ar.
Para a pesquisadora, os cientistas agora precisam ser capazes de responder se os microplásticos podem ser prejudiciais à saúde. “Algumas dessas partículas são tão incrivelmente pequenas que podem atravessar o revestimento do trato gastrointestinal e serem levadas para todo o corpo, e não sabemos as implicações que terão nos órgãos e tecidos”, disse Sherri.

Marcas envolvidas

A pesquisa com água engarrafada envolveu a compra de embalagens de 11 marcas globais e de países escolhidos por suas grandes populações ou seu consumo relativamente alto de água engarrafada. As marcas avaliadas foram: Aqua, Aquafina, Bisleri, Dasani, Epura, Evian, Gerolsteiner, Nestle Pure Life, Minalba, Wahaha e San Pellegrino.
O plástico foi encontrado em 93% das amostras e também foram descobertas  partículas de polipropileno, nylon e tereftalato de polietileno (PET). Em média, os pesquisadores encontraram em garrafas de um litro de água, 10,4 partículas de tamanho médio de 0,10 milímetros.
As empresas procuradas pela Orb Media, organização jornalística sem fins lucrativos que liderou o teste, alegaram que os valores encontrados superestimam a quantidade de microplásticos em suas águas.  A Nestlé disse à BBC que os testes internos para microplásticos começaram há mais de dois anos e não detectaram nenhum vestígio de partículas acima do mínimo esperado.
Outras instituições avaliadas afirmam que seus produtos atendem aos mais altos padrões de segurança e qualidade. Muitas delas afirmam ainda que fazem testes regularmente e os resultados mostraram níveis significativamente abaixo dos limites para partículas. No entanto, para essas empresas, falta regulamentação a respeito dos microplásticos e não há métodos padronizados para testes nesse campo.
“Acredito que essas partículas venham dos processos de engarrafamento, e creio que a maior parte procede da própria garrafa, de sua tampa e do processo industrial. Mas a água em garrafas de vidro também continha microplásticos”, explicou Sherri à agência de notícias francesa AFP.
Jacqueline Savitz, diretora para a América da Oceana, ONG que luta contra a contaminação dos mares, destacou que o estudo é mais uma razão para se limitar a produção de garrafas de plástico. São produzidos 300 bilhões de litros de água engarrafada por ano.

Métodos aplicados no teste

Para realizar o teste, a equipe de Sherri Mason  impregnou a água das garrafas com um corante chamado Nile Red, uma técnica recentemente desenvolvida por cientistas britânicos para a rápida detecção de plástico na água do mar. Estudos anteriores estabeleceram como o corante adere a pedaços de plástico que flutuam de forma livre e os torna fluorescentes sob certos comprimentos de onda da luz.
No teste, os cientistas filtraram as amostras tingidas e depois contaram cada pedaço maior que 100 mícrons – aproximadamente 0,1 milímetro. Algumas dessas partículas, grandes o suficiente para serem manipuladas individualmente, foram então analisadas por espectroscopia infravermelha, confirmadas como plásticas e identificadas como tipos específicos de polímero.
As partículas menores que 100 mícrons eram muito mais numerosas (uma média de 314 por litro), e foram contadas usando uma técnica desenvolvida na Astronomia para totalizar o número de estrelas no céu noturno. Algumas foram consideradas resíduos plásticos por expectativa racional, segundo Sherri. Isso ocorre porque, ainda que a tintura de Nile Red possa se ligar a outras substâncias que não o plástico – como fragmentos de conchas ou algas que contenham lipídios -, seria pouco provável que eles estivessem presentes na água engarrafada.

De onde vem o plástico?

Uma vez que o estudo não passou do processo usual de revisão e de publicação de pares em um periódico científico, a BBC pediu a especialistas que o comentassem.
Andrew Mayes, da Universidade de East Anglia, do Reino Unido, e um dos pioneiros na técnica do Nile Red, disse que o teste é uma "análise química de alta qualidade" e que os resultados são "bastante conservadores".
Michael Walker, consultor do Government Chemisty (unidade de pesquisa que atua em disputas na área de regulamentação de alimentos no Reino Unido) e membro do conselho Food Standards Agency, que responde pela segurança alimentar no país, disse que o trabalho foi "bem conduzido".
Ambos enfatizaram que as partículas abaixo de 100 mícrons não foram identificadas como plásticas, mas disseram que, uma vez que as outras opções não seriam esperadas em água engarrafada, poderiam ser descritas como "provavelmente de plástico".
Uma questão óbvia é de onde esse plástico vem. Dada a quantidade de polipropileno, usado nas tampinhas de garrafa, uma teoria é que o ato de abrir uma garrafa pode derramar essas partículas lá dentro.


Image copyrightGETTY IMAGESGarrafas plásticas de água
Image captionAs micropartículas de plástico podem sair das tampinhas das garrafas

Empresas negam

A BBC contatou todas as empresas envolvidas - a maioria delas respondeu.
A brasileira Minalba disse que seu processo de extração e envase da água da fonte mineral Água Santa, localizada em Campos do Jordão (SP), segue todos os padrões de qualidade e segurança exigidos pela legislação brasileira, "refletindo, com rigor, a manutenção das propriedades minerais vindas da natureza".
A Nestlé disse que seus próprios testes internos para microplásticos começaram há mais de dois anos e não detectaram nenhum vestígio de partículas acima do mínimo esperado.
Um porta-voz acrescentou que o estudo da professora Mason falhou nas principais etapas para evitar "falsos positivos" e convidou o Orb Media para comparar métodos.
A marca Gerolsteiner também disse que estava testando a quantidade de microplásticos havia vários anos e que os resultados mostraram níveis "significativamente abaixo dos limites para partículas" estabelecidos para empresas farmacêuticas. E que não conseguiu entender as conclusões do teste, já que as micropartículas estão "em todo lugar", podendo entrar nos produtos pelo ar ou pelos materiais de embalagem durante o processo de engarrafamento.


Gáfico sobre aumento no uso de plástico

A Coca-Cola, dona da Dasani, disse ter alguns dos mais rigorosos padrões de qualidade na indústria e usou um" processo de filtração multipasso". E também afirmou que os microplásticos "parecem ser onipresentes e, portanto, podem ser encontrados em níveis mínimos mesmo em produtos altamente tratados".
A Danone, fabricante da Aqua e da Evian, disse que não poderia comentar o estudo porque "a metodologia utilizada não é clara", mas acrescentou que suas garrafas tinham qualidade de embalagem alimentar.
A empresa ressaltou que não há regulamentos sobre microplásticos ou um consenso científico sobre testes, e também destacou um estudo alemão muito menor, realizado no ano passado, que encontrou partículas de plástico em garrafas de uso único, mas não acima de uma quantidade estatisticamente significante.
A PepsiCo disse que sua marca Aquafina tem "medidas rigorosas de controle de qualidade, práticas de fabricação sanitária, filtração e outros mecanismos de segurança alimentar que produzem um produto confiável e seguro". Descreveu ainda o estudo dos microplásticos como um campo emergente e que requer análise científica adicional.

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