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A história de colonização do Brasil é conhecida pelos brasileiros que tiveram oportunidade de estudar. Mais de 500 anos depois, ainda falta muito para equilibrar as dívidas sociais, principalmente com os afrodescendentes e com os índios. Mas, há uma luz no fim do túnel, e a educação é a lanterna que ajuda a transformar a realidade do Brasil do século XXI. O Blog Companhia das Entrevistas tem o compromisso de facilitar a construção do conhecimento de todos os leitores de nossas entrevistas. E com muita satisfação recebemos a participação Frei David Santos, ofm, Diretor
Executivo da Educafro. A Educafro apoia 100% dos
Royalties do petróleo para a Educação. Boa leitura:
Blog: Por qual motivo a Educafro apoia 100%
dos Royalties do petróleo para a Educação, é pelo fato de que a educação é a
única ferramenta capaz de transformar a realidade?
Frei David: O Brasil já era para ser o
luzeiro da humanidade, em qualidade de vida educacional para todos e com uma
atenção especial à diversidade étnica. Ele reúne condições fantásticas para ser
modelo de integração étnica para o mundo. É isto que os demais países esperam
de nós! Nos últimos 10 anos muitas coisas estão mudando em direção a esta meta.
Negros e negras, apoiados por brancos conscientes tem feito a roda da
integração gerar políticas públicas que garantam atacar a exclusão dos negros e
indígenas. Os Royalties do Petróleo, sendo aplicados 100% na Educação vai dar
oportunidade a todos, especialmente aos que estão conquistando agora sua
cidadania no acesso às universidades públicas de qualidade. Não basta a vaga na
universidade. Necessitam-se de livros, transporte, alimentação, alojamento e
acesso à cultura para toda juventude que está tendo somente agora sua
oportunidade de ingressar nas universidades públicas. Alguns com a idade bem
avançada para esta meta, mas firmes e convictos! Os Royalties será a nossa esperança
de dias brilhantes para a população afro-brasileira!
Blog: A comunidade negra sempre foi marginalizada
nas políticas públicas educacionais em toda história da República, há uma luz
no fim do túnel que seja capaz de pagar esta dívida social?
Frei David: A pressão da comunidade é
determinante. Quando 10 negros/as ocuparam o Palácio do Planalto em greve de
fome, no dia 27 de junho das 9 às 23 horas e no lado de fora outros 20 repetiam
o gesto por três dias, isso fez acordar setores do Governo Federal que tinham uma
visão ingênua de como enfrentar e garantir a integração pluriétnica,
possibilitando a todos o acesso às oportunidades em situação de equidade. A luz
no fim do túnel está posta e a comunidade negra que está entrando nas
universidades com COTAS está, com convicção, indo rumo a esta luz: estão
obtendo médias acadêmicas iguais ou superiores aos da classe média que sempre
tiveram oportunidades.
Blog: Nos últimos anos estão
surgindo políticas que estão proporcionando mobilidade social para os jovens
negros, a questão das cotas está inserida neste contexto de inclusão
educacional?
Frei David:Setores da sociedade, agora
muito pequenos, ainda são contra as cotas. No entanto os desafios a
apresentarem outro método mais eficiente para resgatar direitos da comunidade
negra obstruídos ou roubados por políticos irresponsáveis ao longo dos anos. Se
estes setores apresentarem um método mais eficiente de inclusão de negros nas
universidades, deixo de ser um lutador a favor das cotas e mudo de lado! A
UNICAMP se apresenta como a que têm um método que é uma alternativa às cotas.
No entanto é uma proposta a “conta-gotas”. Não podemos ver mais uma geração da
nossa juventude negra morrendo pela polícia ou pelas drogas sem ter a
universidade como alternativa!
No Estado de São Paulo há uma
omissão vergonhosa do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Estamos
preocupados... Percebemos que chegou a desesperança no nosso povo negro, com
referência a estes três poderes estaduais. Vamos ser obrigados a deixar a nossa
equipe de militância fazer o que querem há muito tempo e temos pedido a eles para
darem mais um voto de confiança. Eles ocuparão a REITORIA DA UNESP no dia 20 de
novembro de 2012. Não dá mais para pedir
que tenham paciência... Os vários contatos do Governador Geraldo Alckmin
conosco geraram expectativa e agora está gerando frustração. Sua assessoria tem
uma visão política dos direitos da população negra equivocada. Para complicar
mais, são vítimas em alto grau da compreensão equivocada de meritocracia,
adotando uma compreensão injusta e superficial. O mesmo se percebe com os
dirigentes das três Universidades Estaduais. Não se sabe se é ingenuidade ou
“birra política”. Deixar só o PT ser sensível com a pressão da comunidade negra
e ceder a estas políticas é um equivoco de um governo. Olhe a votação de cada
partido nas periferias. Isto não é o suficiente como recado? Em um dos últimos
emails trocados por nós com o Governador , ele nos garantiu que havia criado
uma nova comissão emergencial para dar conta da INCLUSÃO de NEGROS em todos os
setores da sociedade paulistana, atendendo assim a demanda da comunidade negra.
Nada avançou.... O Estado de São Paulo é numericamente o maior Estado negro do
Brasil, mas com referência a políticas públicas é o estado mais atrasado.
Blog: A inclusão nas universidades
está esbarrando em verbas para material didático, alimentação e passagem, como
resolver essa situação?
Frei David: Há duas soluções
complementares: a primeira é emergencial. O Governo Federal poderia baixar uma
portaria permitindo que se use a verba do FIES – Financiamento Estudantil –
também para investir em bolsa garantindo a permanência para jovens que estão
entrando nas universidades públicas e particulares, através das cotas, ProUni e
outros planos de bolsas, tanto púbicos (Federal, Estadual ou Municipal) ou particulares.
É vergonhoso saber que o índice de abandono de jovens das faculdades
brasileiras públicas e particulares é superior a 40%. É muito dinheiro público
jogado fora, além de tempo e investimento humano. São brasileiros, cheios de
sonhos e que, por falta de políticas públicas arrojadas, são jogados fora! E
isto pode ser diferente! Basta terem determinação política e amar o povo pobre
e negro! A segunda opção, sem deixar a primeira de lado, pois esta só virá em
médio prazo - pois “quem tem fome tem pressa” - é a garantia de 100% dos Royalties do Petróleo
para os vários desafios da Educação e especialmente para o sucesso dos que não
nasceram em berço de ouro.
Blog: A Educafro entende como
prioridade a formação e valorização dos professores, assim como uma melhor
estrutura nas escolas, de que forma isso pode ser alcançado no Brasil?
Frei David: A Escola Brasileira, em todos
os sentidos, precisa de uma corajosa reforma. Conversando com um jovem da
Educafro, formado recentemente, ele foi convicto em dizer que 70% do conteúdo
que ele estudou no ensino médio não serviu para nada no seu ensino superior.
Isto é preocupante! Outro jovem experimenta um drama um pouco mais grave: em
todo seu tempo de ensino fundamental e médio, nunca recebeu formação
vocacional. Resultado: já mudou de curso universitário três vezes! E ainda não
sabe se está no curso certo. Tudo isto é dinheiro público jogado fora e os
responsáveis são os formuladores das políticas educacionais equivocadas ou
incompletas em todos os níveis! As áreas educacionais brasileira, nos níveis
municipais, estaduais e federal jogam muito dinheiro fora! Isto não pode
continuar! O país vive em outro momento onde o povo vai ampliar a cobrança, com
garra e determinação!